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Sipam: nova cheia do rio Madeira é dada como certa, mas em proporções menores

Fevereiro 2014
Temendo uma nova cheia do rio Madeira, que deixou o Acre isolado do resto do país no ano passado e trouxe ainda uma série de prejuízos, entre eles: o desabastecimento geral do comércio e a escassez de alimentos e gêneros de primeira necessidade, a reportagem do ac24horas obteve entrevista, exclusiva, com  o meteorologista Luiz Alves dos Santos Neto, via e-mail, que responde pela Divisão de Meteorologia e Climatologia do Sistema de Proteção da Amazônia – Centro Regional de Porto Velho (SIPAM-CRPV-RO), órgão federal vinculado ao Ministério da Defesa.
Luiz dos Santos Neto explica que apesar das condições climáticas desfavoráveis, uma vez que estão previstas chuvas acima da média para a região, a ocorrência de uma nova cheia é inevitável, porém não se assemelha a enchente ocorrida no ano passado, que atingiu níveis históricos (19,42 m). Para este ano, a repetição do mesmo nível não faz parte do cenário metereológico atual, nem pro rio Acre, tampouco para o Madeira, contrariando as informações divulgadas anteriormente.
Segundo o meteorologista, os rios podem encher, sim, e causar alguns transtornos, mas embora a preocupação seja real, o Sipam informou que continua com o trabalho diário e constante de monitoramento – em conjunto com órgãos parceiros – na emissão de boletins meteorológicos e hidrológicos com o objetivo de informar a sociedade em geral e as autoridades, com bastante antecedência, e, assim, diminuir os prejuízos que uma cheia possa ocasionar.
sipam
Confira a íntegra da entrevista e fique por dentro da real situação do rio Madeira e das condições climáticas para os próximos dias:

ac24horas: Para manter nossos leitores atualizados, qual a medição atual do nível pluviométrico do rio Madeira, cota de alerta e de transbordamento para esta sexta (16)?
Meteorologista Luiz Neto: Hoje, 16, o rio Madeira, em Porto Velho, está com 13,33 metros (segundo fonte da ANA) e fazendo uma comparação com a leitura da régua nos últimos dias, o nível do rio está caindo lentamente na altura de Porto Velho. A cota de alerta aqui em Porto Velho é de 15 metros. Com relação a chuva que caiu na bacia do rio Madeira nos últimos 7 dias, houve chuvas significativas na cabeceira dos rios Beni e Mamoré, principais contribuidores do rio Madeira. Esta chuva, para se transformar em nível de rio em Porto Velho, leva aproximadamente uma semana. Portanto, como o rio neste momento encontra-se em ligeira queda, o mesmo pode elevar-se gradativamente na próxima semana. A previsão de chuva para os próximos sete (7) dias na bacia do rio Madeira é de que continue chovendo de forma significativa na região, principalmente na região do rio Mamoré (centro da Bolívia) e no alto Madeira (extremo norte da Bolívia, fronteira com o Brasil). Lembrando que esta é a chuva prevista para até meados da semana que vem. Caso ocorra, esta chuva só irá influenciar na subida do rio Madeira aproximadamente uma semana depois de ocorrer estas chuvas.

ac24horasCom base em relatórios e estudos do Sipam, ​qual é a previsão climatológica com relação as chuvas​ para os próximos dias?

Meteorologista Luiz Neto:  Pelo menos até o fim deste mês, tanto o Acre, como Rondônia, como a área da bacia do rio Madeira, terão chuvas acima da normalidade para o período. Para fevereiro, a expectativa também são de chuvas acima da normalidade em todas as áreas citadas. Apenas em março é que o volume de chuva previsto deve cair dentro da normalidade.
ac24horas: Existe a possibilidade de se repetir a grande cheia do ano passado, que afetou o Acre em grandes proporções, em virtude do fechamento da BR 317?

Meteorologista Luiz Neto Existe sim a expectativa de uma nova cheia no rio Madeira, mas não com as mesmas proporções que foram observadas no ano passado. Nós do SIPAM, baseado em análises técnicas tanto hidrológicas quanto meteorológicas, não acreditamos que o rio chegue a marca histórica de 19,70 metros registrada ano passado ou ultrapasse esse valor. Porém, esperamos que ele fique entre 15 e 17 metros, de acordo com o cenário previsto de chuva para os próximos meses.

ac24horas: Existe, por parte da população acreana, uma forte preocupação temendo o isolamento com o resto do país. Para o Sipam,  existem fatores climatológicos para que tenhamos novamente uma enchente de grande proporções?

Meteorologista Luiz Neto: A preocupação sempre existe, já que estamos trabalhando com fenômenos da natureza e nós não temos domínio sobre suas forças ou suas mudanças repentinas. No entanto, acreditamos, baseando-se nos dados hidrológicos e meteorológicos registrados até o momento, que o cenário climático atual e previsto nos tranquilize um pouco, uma vez que as condições, apesar de serem ligeiramente semelhantes, não estão iguais aos que foram observados no final de 2013 e no começo de 2014. Tem chovido muito sim nas cabeceiras dos rios que formam o rio Madeira, mas não com a mesma quantidade e intensidade que foi observado no final de 2013 e início de 2014 e como o quadro previsto também é chuva menos intensa do que foi observado em fevereiro e março do ano passado, isso nos deixa mais tranquilos, mas não totalmente relaxados. Salienta-se também que os rios amazônicos sempre enchem nesta época do ano, uma vez que estamos dentro do período de chuvas na região.
cota rio madeira

ac24horas:  De que maneira o Sipam atua para evitar riscos e diminuir os transtornos aqueles que vivem em áreas consideradas de riscos?

Meteorologista Luiz Neto: O papel do Sipam neste contexto está em fazer pesquisas e estudos mais aprofundados, além de intensificar os trabalhos rotineiros, a fim de gerar conhecimento para os órgãos que tem o poder de lidar com este tipo de situação e também para que cada órgão tome suas providências cabíveis diante do quadro que nós repassamos a todos.

ac24horas: Existe uma explicação do ponto de vista científico para esse pré anuncio de uma nova cheia?

Meteorologista Luiz Neto: Estamos sofrendo influência do fenômeno climático El Niño, que é o aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico tropical. Geralmente quando este evento acontece no início da estação chuvosa, as chuvas no sul e no sudoeste da Amazônia tendem a cair com um volume maior do que o normal. As grandes cheias do rio Madeira nos anos de 1982 e 1997 tiveram interferência deste fenômeno, que nestes anos, por coincidência, houve um dos eventos de El Niño mais fortes da história. Não é o caso desse ano. Estamos sim sob influência do El Niño, mas ele está com fraca intensidade. Porém, apesar de fraco, ele está modulando as condições de clima na nossa região.

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