Historiador diz que Tratado de Petrópolis é certidão de nascimento
Tratado foi assinado no dia 17 de novembro de 1903.
Documento formalizou a incorporação do Acre ao território brasileiro.
"Nós lutamos para ser brasileiros". É com essa frase que muitos acreanos resumem a história do Acre. O estado, que originalmente era de território boliviano, foi anexado ao Brasil com a assinatura do Tratado de Petrópolis, no dia 17 de novembro de 1903. O documento foi assinado como forma de encerrar os conflitos da Revolução Acreana, que ocorriam na região. Para o historiador Marcus Vinícius, o documento pode ser considerado a "certidão de nascimento" do Acre.
"Em alguma medida, é a certidão de nascimento do Acre, porque ele ainda não existia. Era um território que não estava legalizado. Existia de fato, mas não de direito. Foi a luta dos brasileiros que viviam na região que fez com que essa situação mudasse", afirma.
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Apesar de pertencer à Bolívia, a então região do Acre era ocupada por seringueiros brasileiros em plena época da extração da borracha. A Revolução Acreana, iniciada em 1899 com a proclamação da República do Acre por Luiz Gálvez, termina em 1903 após a disputa de forças armadas comandadas por Plácido de Castro. O Tratado de Petrópolis, negociado pelo Barão do Rio Branco, encerra a tensão na região e formaliza a incorporação do Acre ao estado Brasileiro.
Mas não foi simples chegar ao acordo diplomático. Vinícius explica que o Brasil não tinha direito à região e para ficar com o território, precisou negociar uma troca com o governo boliviano. Ficou acertado de que a Bolívia abriria mão do estado do Acre em troca de territórios brasileiros do estado do Mato Grosso, e receberia também a quantia de 2 milhões de libras esterlinas devido a látex extraída da região.
"Alguns intelectuais brasileiros não admitiam que o Brasil cedesse terra para a Bolívia. Teve uma grande troca de artigos através dos jornais na época e uma intenção movimentação da imprensa na época. A questão do Acre se tornou algo bastante importante para a República Brasileira, que ainda tinha muita instabilidade. Foi um grande trabalho do Barão do Rio Branco, não apenas na questão da diplomacia, mas no debate da opinião pública brasileira", lembra o historiador.
Vinícius lembra ainda que muitos documentos daquela época não chegaram ao conhecimento dos historiadores e precisam ser vistos para entender o que realmente aconteceu naquela época. "Existem documentos que até hoje não foram liberados em relação ao tratado, por comprometer pessoas históricas do povo boliviano, então é muito provável que a gente ainda não saiba muitas coisas que se passaram nos bastidores deste tratado", afirma.