"Um dia de glória", diz seringueiro que conduzirá a Tocha Olímpica no Acre
O acreano Lorismar Barros, de 52 anos, trabalha nas florestas desde os 8 e é um dos indicados a carregar a chama olímpica, em Rio Branco, capital acreana, na terça (21)
Filho do acreano Manoel Vieira da Silva e da cearense Raimunda Barros, nascido no seringal Nova Esperança, na zona rural de Rio Branco, a história de Lorismar Barros, de 52 anos, se repete, assim como a de milhares de conterrâneos que trabalharam nas florestas amazônicas. Mas agora, como ele mesmo denomina, terá seu "dia de glória". O seringueiro é um dos condutores da Tocha Olímpica durante o Revezamento em Rio Branco, capital do Acre, na terça-feira (21).
Mais velho de sete irmãos, passou a trabalhar na extração do látex aos oito anos para sustentar a família quando o pai adoeceu e se afastou de casa para tratamento. Após décadas de fome e trabalho árduo, atualmente segue o ofício dentro do único seringal urbano do mundo, localizado no Parque Capitão Ciríaco, em Rio Branco, capital acreana. Lá, segundo ele, encontrou a verdadeira felicidade ao trabalhar no que gosta.
Lorismar Barros, seringueiro acreano que conduzirá a Tocha Olímpica (Foto: Nathacha Albuquerque)
Lorismar aprendeu a ler aos 40 anos, em um programa de ensino para adultos, em Rio Branco, e conseguiu chegar até ao segundo ano do ensino médio. Os olhos cansados e a fala rápida e entusiasmada não escondem a sabedoria de quem aprendeu com a natureza. Além de extrair o látex, explica e ensina o trabalho aos alunos e visitantes do parque. Ele relembra e conta um pouco da trajetória até conseguir o emprego atual.
- Eu não tinha nem experiência, mas já acompanhava meu pai, então passei a me dedicar a aprender. Foi muito sofrido, lembro que chegamos a passar fome, porque como eu era criança não tinha aquela capacidade de manter uma família, a minha mãe também tentou ajudar, mas como ela tinha seis filhos pequenos, as pessoas não ajudavam porque era uma família grande. Então eu deixei de estudar porque tinha que manter minha família. Foram sete anos de angústia e sofrimento antes do meu pai retornar para casa.
Mais do que contar sua história, o seringueiro quer manter a cultura e agora contar para os netos e bisnetos o dia em que carregou a Chama Olímpica. Questionado se já praticou algum esporte ele é rápido ao responder: as caminhadas diárias foram longas dentro das matas.
- Quando a gente é novo, corre muito e quando você trabalha com seringa, anda ainda mais, pelo interior da mata, apressado. Isso já é um esporte (risos), ali você está se exercitando todo dia, é um treinamento. Quando recebi este convite, foi uma honra, pois tudo aquilo de sofrimento que eu passei está se transformando em um dia de glória. Quantas milhares de pessoas querem ter essa oportunidade que Deus deu a mim. Então estou muito honrado e feliz, em contribuir e dar essa lembrança, para os meu netos e bisnetos. Pode ser que jamais ocorra aqui de novo.
Lorismar Barros, seringueiro acreano que conduzirá a Tocha Olímpica (Foto: Nathacha Albuquerque)
O seringueiro celebra a chance de ser um dos carregadores e fala da ansiedade, que aumenta com a proximidade do evento. Lorismar ainda não sabe muito sobre o que fará no dia, mas já se orgulha de representar os trabalhadores da floresta.
- A ansiedade é grande, tremo só em falar. Mas estou pronto para mostrar para meu país que estou aqui, para representar os seringueiros e seus sofrimentos, porque já foram muito explorados. Muitos perderam a vida para tentar manter a família nestas florestas, então agradeço muito, ao Chico Mendes, que foi guerreiro, que lutou pela liberdade e pela nossa expressão, pelos direitos dos seringueiros e dos agricultores - finaliza.
O revezamento em Rio Branco inicia às 13h (local), no Mercado Municipal Rui Lino, passando por pontos turísticos e encerrando com uma festa na Gameleira, por volta das 18h30 (local). A Chama Olímpica foi acesa no dia 21 de abril, na Grécia. No Brasil, o revezamento começou no dia 3 de maio, em Brasília, capital federal. A Tocha passará pelas cinco regiões do país, até o dia 5 de agosto, quando ocorre a abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã. (acompanhe o Tour da Tocha aqui).
G1
