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“É preciso coragem, conhecimento da realidade para transformar e desenvolver o Acre”, diz Emylson Farias

“No tocante à repressão, proporcionalmente, somos o estado da federação que mais prende”, disse Farias

Com o agravamento cada vez maior da crise de representatividade atravessada pela classe política, em seus diferentes níveis, passou a ser comum encontrar, nos lugares mais distintos, o povo em geral bradando, com justa razão, contra seus representes: “Tudo farinha do mesmo saco”. “Só pensam neles”. Frases como estas são as mais comuns no tiroteio disparado contra os políticos.
Todavia, como toda unanimidade é burra, assim como dizia o dramaturgo Nelson Rodrigues, toda generalização também nos parece injusta. Está aí a provar a história e carreira de um homem que trabalha diuturnamente em um setor cujo resultado parece ser de “enxugar gelo”. Esse homem é o secretário de Segurança Pública, o acreano Emylson Farias da Silva, de 44 anos, agora pré-candidato ao governo do Acre pelo PDT.

Pré candidato aponta novos rumos para a economia acreana/ Foto: Assessoria
A sua imersão na política partidária, segundo ele, é para servir a população e fazer garantir os direitos constitucionais a quem mais precisa, efetivando a sócio-inclusão para transformar o Acre em um lugar mais seguro, justo, equitativo e melhor. “Não há verdadeira felicidade onde houve desigualdades”, assim concebe ele, para quem desenvolvimento é garantir dignidade e qualidade de vida para a população.
Emylson sabe que os acreanos se ressentem de bons políticos. E, apesar de todas as riquezas existentes neste maravilhoso local, todas elas seguem ainda subexploradas e com administrações ineficientes. Neste ponto, o Acre precisa das pessoas revolucionárias, que não girem em torno de seu próprio eixo, de competência comprovada e galgada em uma política administrativa eficiente, objetivando o desenvolvimento pleno de sua população.
“É preciso coragem, determinação e conhecimento da realidade para transformar e desenvolver o Acre, alcançando todo o seu potencial e vocação, respeitando suas comunidades tradicionais, fazendo cumprir a legislação ambiental brasileira”, assim pensa o pré-candidato, afirmando que a nossa região é detentora de uma enorme riqueza biológica capaz de potencializar o nosso desenvolvimento industrial em diversas cadeias produtivas.
Ele propõe fomentar e melhorar as produções ligadas à agroindústria, formando uma cadeia sustentável e produtiva para exportar proteína animal (gado, peixes, suíno e frango), “Além disso, temos o potencial turístico das nossas riquezas naturais bem como a valorização das nossas manifestações culturais. A inclusão das pessoas, nos diversos setores produtivos, abrirá caminhos para que o Estado materialize uma saúde resolutiva, uma educação transformadora e segurança eficiente”, vislumbra ele.
Nesta entrevista concedida em seu gabinete e quase fora expediente, o pré-candidato fala também de sua infância humilde no histórico município de Xapuri, de sua trajetória como servidor, de política de Segurança Pública e principalmente de suas propostas para governar o Acre. “Tenho a convicção de que as pessoas depositarão na minha candidatura a esperança do futuro do Acre e das próximas gerações”, disse Emyson Farias.
“Não tenho a pretensão de ser o melhor, mas enfatizo que os políticos não são iguais, principalmente se os homens públicos tiverem causas e compromissos com a população”. Vejam os principais trechos.
ContilNet – O senhor nasceu, passou a infância e adolescência em Xapuri. O que aquele local e aquelas pessoas representam para o senhor?
Emylson Farias – Representam a minha história, as minhas origens. Estudei o antigo Primeiro Segundo Graus lá. Apesar de ter saído para estudar fora, nunca perdi o contato com os amigos e familiares. O meu pai tem uma mercearia no mercado e foi esse comércio que garantiu o sustento da nossa família. Eu vendia doces e salgados não rua para ter o meu próprio dinheiro. Eu gostava de ir ao cinema e comprar uma roupa melhor. Foi um período de tranquilidade e felicidade da minha vida. Nos finais de semana, quando as quero renovar as minhas energias, costumo aparecer na cidade.

Já está na hora de vislumbrar que o Acre pode ser muito mais que um celeiro amazônico, diz Emylson
ContilNet – Depois de terminar o Ensino Médio em Xapuri, o senhor foi estudar em São Paulo, onde se formou em Direito pela Universidade de Ribeirão Preto?
Emylson Farias – Sim. Eu sempre tive vontade de ser delgado. Desde a infância eu desejava ser investigador. Eu achava que um delgado era capaz de fazer cumprir as leis e lutar por justiça social. Jamais pensei nessa coisa estereotipada que usa a força e arbitrariedade, mas que garantisse direitos aos cidadãos. Eu tinha um primo que foi estudar em São Paulo e acabou levando o meu irmão com ele, além de outras pessoas de Xapuri e Rio Branco. Formamos uma república acreana em São Paulo. Todos se ajudavam mutualmente. Eu trabalhei como vendedor de plano de saúde, de previdência social e assessor de cobrança. Eu me formei em Direito pela universidade de Ribeirão Preto e voltei ao Acre como Bacharel em Direito.
ContilNet – De volta à terrinha, antes de ingressar no governo estadual como delegado, o senhor começou a trabalhar exatamente onde?
Emylson Farias – Por um período muito pequeno eu advoguei. Depois foi ser assessor jurídico no Ministério Púbico do Acre. Ajudava o promotor Danilo Lovisaro, na Promotoria do Tribunal do Juri, mais especificamente naqueles processos do Esquadrão da Morte. Depois de passar no concurso, foi lotado na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. Em seguida, fui comandar a Delegacia Especial de Combate ao Crime Organizado. No MP, eu havia trabalhado como assessor de um grupo de promotores que combatia o crime organizado. Eu me familiarizei com os inquéritos e processos do famigerado Esquadrão da Morte. Tínhamos um quadro funcional reduzido, mas existia uma parceira entre as instituições. Foi nessa época que comecei a ser ameaçado e isso nunca parou. Naquela época existia um estado paralelo comando por uma organização criminosa, que se infiltrou nas instituições por mais de duas décadas. Relatamos mais de cem inquéritos tidos como insolúveis. Indiciamos dezenas de pessoas. Foi um trabalho feito a muitas mãos com total apoio de ente Estado, que era comando pelo governador Jorge Viana. Depois desse trabalho, o então governador Binho Marques me chamou para comandar a diretoria-geral de Polícia Civil, que depois se transformou na Secretaria de Polícia Civil, e eu me tornei o responsável pela Pasta no primeiro mandato do governador Tião Viana. No segundo mandato, eu fui convidado e tomei posse como secretário de Segurança Publica.
ContilNet – Qual é a avaliação que o senhor faz do seu trabalho como gestor de Segurança Pública?
Emylson Farias – Nos tínhamos feito um planejamento do sistema integrado, com diretrizes determinadas, bem claras. Essa missão foi colocada em prática desde 2013. Os números do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) não me deixam mentir. Tivemos uma considerável redução da criminalidade no período de 2013 a 2015. Enquanto no Brasil subia, o Estado do Acre vinha reduzindo os homicídios. Fomos o único Estado da Região Norte que conseguiu isso. Em 2016 acontece um fato que modificaria a geopolítica do crime no Estado Brasileiro, que foi a morte do traficante internacional, Jorge Rafaat, com influência em toda América do Sul, aquele que ocupou o lugar deixado pelo Fernandinho Beira Mar. As rotas que eram dominadas passam a ser disputadas pelas facções criminosas, que compõe o Estado Brasileiro e interiorizam o crime. Por isso que é fundamental a União proteger as nossas fronteiras. As principais entradas de drogas no Brasil vinham pelo Paraguai via Mato Grosso do Sul e Mato Groso.
A partir desse acontecimento, houve um novo rearranjo e definiram novas rotas. Os maiores produtores de entorpecentes, o Peru e a Bolívia, aqui do nosso lado, começam a discutir novas rotas. O Rio Solimões se tornou uma veia aberta e passou a ser disputadas pela [facção] Família do Norte, que foi um forte poder lesivo para o Comando Vermelho e o PCC. Não por acaso ocorreram aquelas 60 mortes no presídio do Amazonas. Aqui no Acre tivemos que fez um rearranjo. Precisávamos silenciar o escritório do crime. Aquelas pessoa que estavam segregadas no maior presídio do Acre precisavam deixar de ter contato com o mundo externo. O que fazemos? Mandamos os líderes para fora do Estado, fortalecemos as guaritas, instalamos bloqueadores, contratamos novos agentes penitenciários, fazemos revistas rotineiramente nos presídios e implantamos o regime RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). Em março, abril, maio e junho conseguimos reduzir os homicídios. No tocante à repressão, proporcionalmente, somos o estado da federação que mais prende.
ContilNet – E no tocante à prevenção?
Emylson Farias – Nós temos clareza que só a repressão não resolve o problema da violência. Nós temos um projeto chamado ‘Chegando na Frente’, que foi lançado em Cruzeiro do Sul e tem um núcleo aqui na Vila Campinas [distrito de Plácido de Castro]. Estamos atraindo os jovens para a arte, o esporte e acultura. Voltamos com o programa Bombeiro Mirim, que tem 1.500 integrantes. Sabe o que significa isso? Significa dizer para as facções: não venha arregimentar porque esses protegidos e orientados pelo o Estado, com valores éticos e morais para construir uma sociedade pacífica e longe da cultura de violência. Essas crianças estudam em tempo integral.

Eu sempre acredito que existem saídas para este mundo, diz o secretário
ContilNet – O senhor fala muito das famílias que moram na zona rural. Por quê?
Emylson Farias – Porque essas pessoas devem ter o mesmo nível de cidadania, ou seja, o poder público deve criar as condições para os agricultores permanecerem no campo. Dessa forma, além de gerar emprego, fortalece a economia rural. Se isso não acontecer, eles virão para a ilusão da cidade. Assim, poderão compras roupas e sapatos para seus filhos. Mas isso com apoio e fomento a produção, com escolas, postos de saúde e ramais estruturados. Isso se chama uma politica agrícola de Estado.
ContilNet – E quais são os outros caminhos que podem tirar o Acre da economia do contracheque?
Emylson Farias – Já está na hora de vislumbrar que o Acre pode ser muito mais que um celeiro amazônico, e, como fizeram no Vale do Silício americano, uma região que alcançou um gigantesco desenvolvimento, com destaque global, tornar-se o centro de desenvolvimento de tecnologia da informação. Podemos tornar o Acre em um centro mundial de tecnologia da sua biodiversidade, com os investimentos e direcionamentos necessários. Trata-se, inclusive, de uma corrida contra o tempo para evitar que corporações estrangeiras se antecipem e passem a patentear todas as riquezas biológicas existentes na Amazônia, especialmente na nossa região. O Estado do Acre possui localização estratégica quando se trata de exportações e pode atrair inúmeros investimentos como, por exemplo, o desenvolvimento de polos de tecnologia e pesquisa farmacêutica, cosmética e alimentícia, dentre outras tipologias produtivas que podem adequar-se plenamente às potencialidades locais.
A agroindústria precisa movimentar os três setores da economia [agricultura, indústria e comércio]. Existe uma produção de abacaxis em Cruzeiro do Sul. Existindo muito abacaxi, monta-se uma fábrica de beneficiamento de abacaxi, que venderá abacaxi industrializado. Isso gera uma cadeia produtiva. O mesmo pode acontecer com o açaí liofilizado para ganhar o mundo como alimento nutracêutico, não obstante à produção de farinha e seus derivados, que também têm grande aceitação no mercado, sobretudo quando conseguirmos o selo de identificação geográfica, que está na iminência de sair. Mas fruticultura, a agroindústria, o associativismo e os financiamentos só irão existir se tivermos articulação política, capacidade técnica e credibilidade. Essas ações demandam muito esforço, conscientização e vontade política. Existe a possibilidade de termos uma bacia leiteira em Plácido de Castro. Existem plantações consideráveis de milho aqui próximo da Capital. Cada região tem as suas aptidões, as suas vocações. O Acre, num futuro próximo, pode ser um grande exportador de proteína animal [gado, suíno, frango e peixe]. Não precisamos abrir novas áreas para isso acontecer. Precisamos de ciência e tecnologia para aplicar à produção.
ContilNet – O que é felicidade? O que é bem-viver?
Emylson Farias – Eu sempre acredito que existem saídas para este mundo. Sem o amor ao próximo não somos nada. O amor é cura para todos os males. Precisamos nos amar e sermos amados. Eu acredito em Deus e me sinto amado por ele. Então sou feliz. Os povos indígenas acreditam que não é possível viver melhor sacrificando outros que vivem pior. O bem viver é o equilíbrio entre os seres humanos e destes com os elementos da vida. Trata-se de uma cosmovisão. A convivência de todos os seres humanos, com a mãe terra e todos os elementos do cosmos mais amplamente. Acredito que é possível e necessária a aproximação da filosofia indígena do bem viver e a abertura para o que é diverso na busca de uma sociedade mais justa. Somos capazes de convivermos com as diferenças. O poder também precisa ser compartilhado para se chegar ao pluralismo e conseqüentemente à felicidade.

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