Promotora do AC é investigada pelo Conselho Nacional do MP após postagens nas redes sociais
Em uma das postagens, promotora Alessandra Marques teria sugerido uso de medicação contra a Covid-19. ‘Gente, num momento assim, toda esperança é válida’, publicou. CNMP aplicou ainda três penalidades de suspensão de 45 a 90 dias contra promotora.
Por Iryá Rodrigues, G1 AC — Rio Branco
A
promotora Alessandra Garcia Marques, da 1ª Promotoria de Justiça Especializada
de Defesa do Consumidor do Acre, é alvo de uma investigação do Conselho
Nacional do Ministério Público (CNMP) após postagens em sua conta pessoal no
Facebook.
Por unanimidade, o
plenário do CNMP decidiu, nessa terça-feira (22), abrir um processo
administrativo disciplinar para apurar a conduta da promotora por manifestações
em redes sociais.
O G1 tentou contato com a promotora, mas até
última atualização desta reportagem não obteve resposta. O Ministério Público
do Acre (MP-AC) disse que não vai se pronunciar sobre o caso.
Muito ativa no
Facebook, a promotora tem três perfis pessoais com milhares de seguidores onde
faz publicações quase que diárias sobre diversos temas, como receitas
culinárias, críticas à corrupção, decisões judiciais e defesa dos animais.
Mas, foi por causa
de algumas postagens que a promotora acabou recebendo três penalidades de
suspensão de 45 a 90 dias após decisão do plenário do CNMP.
Uma das postagens
foi do dia 7 de maio desse ano em que Alessandra falou sobre o uso da
cloroquina como sendo um método para tratar a Covid-19. No texto, a promotora
comenta que, embora, não haja certeza científica, a medicação tem sido usada e
pacientes estão sendo salvos.
“A Covid-19 é um pesadelo mundial, mas nossa ignorância piora muito
nosso pesadelo. Em meio a uma pandemia, em que, embora, ao que parece, sem
certeza científica, a cloroquina tem sido utilizada e pacientes que dela
fizeram uso têm sido salvos, gente que de algum modo forma opinião resolve
dizer, de mesmo modo sem certeza científica, que o medicamento não deve ser
utilizado. Gente, num momento assim, toda esperança é válida. No entanto, por
aqui, cada dia mais fica mais claro, que ser brasileiro é aguentar firme,
porque não é mole não. Quando não temos nada de útil a dizer, nosso silêncio
vale ouro!”, publicou.
Um dia após a postagem, o MP-AC publicou uma nota dizendo que membros do
MP não têm capacidade técnica ou conhecimento para indicar ou prescrever o uso
da cloroquina ou qualquer outro medicamento para o tratamento do novo
coronavírus.
Compra de votos
Conforme o CNMP, a promotora teria ainda usado suas redes sociais e
e-mail institucional para postar mensagem que sugeria que houve compra de votos
durante a eleição para o cargo de
procurador-geral de Justiça do MP-AC, ocorrida em novembro do
ano passado.
Alessandra chegou a disputar o cargo, mas não obteve votos suficientes
para entrar na lista tríplice. A procuradora Kátia Rejane foi reconduzida ao
cargo de procuradora-geral de Justiça do estado.
Em
sua postagem, segundo o CNMP, a promotora também teria dado a entender que
houve malversação e gestão ilegal de recursos orçamentários no MP-AC.
Outro ponto investigado é que, de
acordo com o Conselho, ao longo do primeiro semestre de 2020, Alessandra teria
feito várias postagens criticando as medidas de contenção à pandemia da
Covid-19 adotadas no Acre.
No ano anterior, a promotora teria
ainda publicado mensagens com teor de “menosprezo e desrespeito” a figuras
públicas e instituições ligadas à Justiça e poderes da república.
Para o corregedor nacional do
Ministério Público, Rinaldo Reis, as publicações da promotora divergem com o
que determina a lei orgânica do Ministério Público do Estado.
“O conteúdo divulgado estimula o
desrespeito e faz propagar mensagem de inquestionável menoscabo em relação aos
atingidos pelos posts. Não se espera do membro do MP o uso da arena pública
para a realização de comparações jocosas entre instituições democráticas e
cenários de filmes de ficção, ou ainda para fazer circular conteúdo destrutivo
em face de autoridades públicas cujo teor em nada ou muito pouco contribui para
a edificação da melhoria do aparato público”, disse o corregedor.