Idosa de 67 anos adota amiga cega e cadeirante abandonada pela família no AC
Maria Rosângela, de 44 anos, é portadora de necessidades especiais.
Dona de casa que adotou cadeirante cria quatro netos pequenos.
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Conhecida por muitos moradores do Montanhês, bairro da periferia de Rio Branco, por participar ativamente dos problemas da comunidade, a dona de casa Maria Cunha do Nascimento, de 67 anos, resolveu fazer juz ao dito popular “coração de mãe sempre cabe mais um”. Com cinco filhos e quatro netos, ela pediu na Justiça a guarda da amiga portadora de necessidades especiais Maria Rosângela, de 44 anos, que foi abandonada pela família.
A história de Rosângela é confusa até para dona Maria, que a conhece há mais 20 anos. “Quando eu a conheci, ela ainda era uma jovem saudável e trabalhava como babá dos filhos da minha sobrinha. Foi quando ela namorou um sobrinho meu, com quem teve um dos seus oito filhos. Mas com um tempo eles terminaram e ela casou-se com outro homem, que foi o que eu penso ter contribuído mais para que ela adoecesse”, relembra.
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Rosângela sofre de uma doença degenerativa, que a fez perder a visão e, aos poucos, tem perdido também a fala e os movimentos do corpo. “Eu não sei qual o nome da doença, mas um médico nos alertou que ela, que já não anda, deixaria de falar. Penso que isso é devido a todo o sofrimento que ela já passou. Apanhou do marido e morou na rua, período em que chegou a ser abusada sexualmente”, diz Maria.
A dona de casa conta ainda que Rosângela desapareceu durante o tempo em que esteve casada. “Passamos um tempo sem vê-la. Então um dia fui comprar pão e encontrei duas agentes de saúde que me perguntaram se eu conhecia algum parente da Rosângela, porque havia sido encontrada sofrendo muito, abandonada em uma casa. Fui até lá e vi a situação: a casa não tinha piso e ela, que já estava debilitada, vivia na lama”, conta.
Dificuldades
Dos oito filhos de Rosângela, apenas dois ainda mantêm contato com ela e Maria, que mesmo morando em uma casa simples, com o marido desempregado e quatro netos de 12, 9, 8 e 5 anos, resolveu dar um lar à mulher que hoje considera uma filha. A família reveza nos cuidados com Rosângela. “Aqui todo mundo se ajuda. Damos banho, escovamos os dentes dela, trocamos fralda e a alimentamos como se ela fosse uma criança. É trabalhoso, mas faço isso por amor”, comenta.
A locomoção foi no início e continua sendo um dos maiores desafios. A rua João Minas Coelho, que dá acesso à casa de dona Maria, era coberta por lama no inverno e cheia de buracos, permanece intrafegável há mais de vinte anos. “Todo mundo via minha luta para sair de casa. A cadeira de rodas não tem como sair daqui. Uma vez a ambulância veio buscar a Rosângela que passou mal e não conseguiu entrar aqui", reclama. Atualmente, a rua passa por revitalização pelo Departamento de Pavimentação e Saneamento do Acre (Depasa).
No começo, Rosângela fazia tratamento no Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac), mas o médico responsável interrompeu alegando não haver necessidade, principalmente porque via a dificuldade da mãe em levar a paciente toda a semana. "Ela passou a ser acompanhada por uma médica do Módulo de Saúde da Família, que vem aqui, consulta, passa remédio quando necessário”, diz.