Por 'precaução' mulheres compram terras em cemitérios ainda em vida
Amélia Menezes e Ofélia Silva compraram os próprios túmulos em Rio Branco.
Ideia é garantir um espaço quando morrerem e evitar gastos da família.
As perdas repentinas de entes queridos fizeram com quem a empresária Ofélia Silva, de 45 anos, e a administradora Amélia Menezes, de 38, resolvessem se antecipar e comprar terras em cemitérios de Rio Branco para construr os próprios túmulos. A ideia é garantir um espaço e evitar que os parentes gastem com essa parte do enterro.
"Minha mãe morreu ano passado e isso mexeu muito comigo. Até para você morrer tem que ter dinheiro e se organizar, senão vira indigente. Tenho a mania de me antecipar. Minha irmã começou, comprou o dela e eu também decidi comprar o meu", conta a empresária.
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Quando Guiomar Jerônimo morreu aos 83 anos em 2015, Ofélia conta que já havia um espaço reservado para a idosa. A empresária revela que a própria mãe já havia comprado terreno em um cemitério do município de Brasileia, no interior do Acre, para ela e os filhos.
"Acho muito importante pensar na vida após a morte, ter um bom descanso. É importante se organizar. É uma das coisas que tenho parecido com ela [mãe]. Comprei o meu em outubro do ano passado. É um pedaço de terra onde pretendo construir um jazigo com quatro gavetas, para mim e meus três filhos", comenta.
A empresária revela que o pedaço de terra custou R$ 1.500 e, quando sentir um alívio na crise econômica, prentende começar a construir o jazigo da família. "Poucas pessoas sabem, apenas alguns amigos, minhas duas irmãs e meus filhos, que acharam loucura minha. Acho importante pensar nisso. É uma maneira de garantir seu descanso eterno", conclui.
Diretor de um cemitério na capital acreana, Neyldo Assis, diz que a procura de pessoas que desejam garantir um lugar antes de morrer é grande, mas não soube precisar um número de procura. Assis conta que um pedaço de terra no cemitério custa entre R$ 2.800 a R$ 5 mil.
Temos quadras aqui que foram quase todas compradas antecipadamente. A família adquiriu e está aqui enterrada. Antigamente quase 80% dos jazigos eram comprados antecipadamente, hoje esse número caiu bastante e precaver acaba sendo a melhor opção.
'Me criticaram', diz administradora
A morte do avô despertou em Amélia Menezes uma preocupação comum. A administradora diz que ficou preocupada em não deixar para a família a função de andar de cemitério em cemitério à procura de um sepulcro. Foi então que aos 16 anos, logo após a morte do avô, que Amélia decidiu que já teria um lugar garantido em um cemitério quando morresse.
"Na época que meu avô morreu, vi ela [avó] comprando as coisas e não sabia como funcionava, pensava que era só chegar e tudo estava pronto. Tem que se precaver e garantir um lugar seu", relembra.
A oportunidade para comprar um pedaço de terra em um cemitério veio através de uma amiga de Amélia. Ela lembra que a amiga tinha sido transferida para a cidade de São Paulo e precisava vender alguns bens. Amélia adquiriu o terreno em 2010, pelo valor de R$ 2.243 e paga uma taxa anual pela manutenção do local.
"O irmão da minha amiga tinha morrido com meningite. Iam enterrá-lo aqui [Acre], mas decidiram levar os restos mortais para São Paulo. Já tinha ido em alguns cemitérios, só que estava lotado e não vendiam mais. Quando houve essa oportunidade, foi como ter acertado na loteria. Todo mundo me criticou, mas não estou nem aí. Quero é ser feliz quando morrer. Não quero dar trabalho para ninguém", destaca.
Amélia diz já ter pesquisado também o valor do caixão. A administradora conta que ainda não comprou a urna porque pode estragar guardada em algum lugar. Quando questionada de que jeito quer o caixão, Amélia diz que quer um bem alegre.
"Meu marido não gostou muito da situação, mas comprei mesmo assim. A gente tem que se precaver. Não compro o caixão porque não sei se vou engordar ou emagrecer, que jeito vou estar. Não quero caixão triste e ninguém chorando no meu velório", finaliza.