Jovens falam de arrependimento por terem entrado no crime: 'devolveria até a paz das vítimas se pudesse'
Em reportagem especial do JAC 2ª edição, jovens infratores falaram como é a vida dentro das unidades socioeducativas. Pesquisa da Abrinq aponta Acre como o estado com maior índice de adolescentes em restrição ou privados de liberdade.
Por Aline Nascimento e Marcelo Pereira, Jornal do Acre 1ª edição, Rio Branco
Roubos, furtos, porte ilegal de arma de fogo e até
assassinatos. Esses são alguns dos crimes praticados por adolescentes que estão
apreendidos no Acre. Segundo uma pesquisa da Fundação Abrinq, o Acre é o estado
do Brasil com maior índice de adolescentes em restrição ou privado de
liberdade.
Os dados mostram ainda o Distrito
Federal, São Paulo e Amapá logo atrás do Acre no índice de adolescentes em
conflito com a lei. Em uma reportagem especial do Jornal do Acre 2ª edição, os
adolescentes contaram como se envolveram no mundo do crime, as consequências e
o arrependimento dos seus atos.
Em um das unidades socioeducativas
da capital acreana existem 54 jovens que cometeram diversos crimes. Atrás dos
muros de segurança, os adolescentes acreditam em um futuro melhor e diferente.
Há até aqueles que planejam voltar aos estudos e entrar em uma faculdade.
“[Sonho] ser engenheiro agrônomo,
fazer engenharia agrônoma. Gosto muito de terra, só isso”, diz um dos jovens.
Apreendido por
assalto, o adolescente diz o que falaria para as vítimas se tivesse a
oportunidade de encontrá-las novamente.
"Em primeiro lugar, pediria desculpas em segundo falaria para eles
que aquilo foi um erro que cometi e se pudesse devolveria todas as coisas, até
a paz deles. Porque as pessoas ficam com muito medo na hora, às vezes a pessoa
pega até trauma com isso. Se eu pudesse, devolveria até a paz que as vítimas
tinham", lamenta.
São diversos
Jovens que cumprem medida socioeducativa após tentarem um atalho na vida, mas
que não deu certo. Os motivos para seguir o caminho errado são os mais
diversos: desde a falta da família, condições financeiras, até a influência de
amigos.
"Vivi mais
nesse mundo do crime porque não tive um pai para estar do lado, para estar ali
apoiando e dando conselho entendeu? Só minha mãe com três meninos é difícil.
Hoje minhas irmãs casaram, também estudam. Me envolvi por causa de influência
dos amigos. Minha mãe me dava conselho, mas quando a gente é novo não escuta a
mãe e faz coisas que não deve", afirmou.
De um lado há
os que cumprem medida pela primeira vez, do outro estão os reincidentes. Mesmo
com a experiência da primeira apreensão, alguns voltam para o mundo do crime e
acabam nos centros socioeducativos novamente.
“Fazia coisa
errada, meu pai dizia ‘filho vai procurar o que é certo, não vai pela cabeça
dos outros’. Eu falei ‘não, esse mundo é pra mim mesmo’. Aí cai na tentação dos
outros e fui roubar e vim parar nesse lugar. Se tivesse ouvido meu pai e minha
mãe estava em casa uma hora dessas terminando a faculdade”, aponta outro
adolescente.
Ações
O diretor do
Instituto Socioeducativo do Acre (ISE), Rafael Almeida, diz que são oferecidas
diversas atividades e acompanhamentos nas unidades para que os jovens retornem
à sociedade recuperados.
"Temos
assistência psicológica, assistente social, atividades de cultura, esporte e
lazer e musicalização. Essas atividades são estratégias que fazemos e
desenvolvemos para que eles reflitam no erro e tenham um desejo maior de mudar
de vida", pontua.