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Perpétua Almeida sobre Bolsonaro: “Ele vive esculhambando com todo mundo”

Deputada acreana disse que ver até a base se afastando do presidente e mantém seu voto contra a aprovação da Emenda da Reeleição

TIÃO MAIA, DO CONTILNET
Acreana nascida nas barrancas do rio Juruá, num seringal muito acima de Cruzeiro do Sul onde hoje se localiza o município de Porto Walter, ela estava destinada a ser freira e até andou frequentando o noviciado. Mas, a filha de seringueiros juruaenses também acalentava outros sonhos: o de ser professora, casar, ter filhos, ser uma ativista política.
Na cidade de Cruzeiro do sul, se tornou bancária. De lá, para o Sindicato da categoria, foi um pulo. Na atividade sindical, conheceria aquele que seria seu marido e companheiro de lutas, o hoje deputado estadual Edvaldo Magalhães (PC do B), que virou presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre (Sinteac), cuja sede é em Rio Branco. Ao acompanhar o marido para a Capital, a bancária sindicalista também se elege vereadora e, depois, deputada federal. Depois de dois mandatos na Câmara, resolveu tentar o Senado da República, em 2014, e perdeu, o que a obrigou a ficar quatro anos fora do Congresso.

Perpétua Almeida é deputada federal/Foto: reprodução
Em 2018, conseguiu se eleger novamente, embora seja a única parlamentar do que restou da Frente Popular do Acre (FPA), o consórcio político entre o PT e o PC do B, seu partido, além de outros satélites, que governou o Acre por 20 anos. Nesta condição, é também a única deputada da atual bancada de parlamentares do Acre no Congresso Nacional que faz oposição tanto ao governo federal como ao local. Por isso, deve ser o único voto do Acre contra a reforma da Previdência, proposta pelo presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, com o qual ela teve uma série de bate-boca, na semana passada, durante um debate sobre a proposta numa audiência na Câmara.
Corajosa, atrevida, determinada e atuante, dela também pode-se dizer que é uma mulher, uma dessas acreanas que não têm papas na língua e aqui, nesta entrevista, ao se expor politicamente, ela mantém a coerência de dizer o que pensa e não poupa o presidente da República, acusando de se um encrenqueiro que vive a esculhambar todo mundo. Por isso, não deve conseguir aprovar suas medidas e, na avaliação da parlamentar, começa a ter dificuldades com sua base de sustentação no cargo. Ela também fala do governo estadual e diz que o Acre, sob Gladson Cameli, “só piorou”. A seguir, os principais trechos da entrevista feita por telefone:
O govenador Gladson Cameli tem que dito que precisa de todos os votos dos 11 membros da bancada federal do Acre no Congresso Nacional, os oito deputados federais e três senadores, em apoio à Reforma da Previdência proposta pelo presidente Jair Bolsonaro e que tramita no Congresso Nacional. Disse que, se a reforma não passar, o Estado quebra e ele teria que decretar estado de calamidade financeira e que iria chamar a senhora para uma conversa e pedir o seu voto. Se isso acontecer, a senhora, que é a única deputada do que restou da Frente Popular do Acre e frontalmente de oposição ao governo dele e de Jair Bolsonaro, o que vai fazer? O que a senhora vai dizer ao governador?
Perpétua Almeida – Primeiro, eu quero saber a opinião do governador do Acre sobre o que tem a ver a Reforma da Previdência nacional com o nosso Estado? Ele tem que explicar isso e dizer porquê.  Isso ninguém está entendendo. Na minha opinião, o que o governador precisa fazer, mesmo diante das dificuldades que ele encontrou nesses cinco meses em que está no governo, é pensar alternativas para desenvolver o Estado. Na minha opinião, do jeito que está, ele não está conseguindo.
Por que?
Porque eu converso muito com as pessoas e o que ouço é que as coisas estão muito piores. O pessoal da saúde diz que o atendimento nos hospitais e postos de saúde não melhorou, pelo contrário. Na área rural, os produtores me dizem que as coisas estão piores porque, neste Governo, não há nem com quem conversar sobre ramais. Agora mesmo estive em Brasileia e lá os marceneiros me disseram que as coisas pioraram para eles porque, quando há concorrência para a fabricação de carteiras escolares, são empresas de Rio Branco ganham e vão em Brasiléia entregar as carteiras e as coisas não podem ser assim. O dinheiro tem que circular em Brasiléia, em Assis Brasil, em Xapuri, em Cruzeiro do Sul e assim por diante. E o que vejo não é o Governo tentando avançar nisso.
E a Reforma da Previdência, por que a senhora é contra?
Porque todo mundo está querendo sair desta Reforma da Previdência. O que vejo aqui em Brasília é muitos deputados da base do Bolsonaro querendo tirar os estados desta proposta porque eles não querem se “queimar” em seus estados votando a forma da Reforma da Previdência que ninguém quer. Será que o governador do Acre sabe de tudo isso? Sobre a Reforma, os militares a queremNão! Aliás, os militares apresentaram foi outra reforma. Os policiais querem entrar? Não, eles querem é sair. Os juízes querem entrar? De jeito nenhum e os professores também não. Ninguém quer entrar nesta forma que, aliás, só tem vantagens na ótica do ministro Paulo Guedes e dos seus aliados.

Entre os assuntos abordados está a Reforma da previdência/Foto: reprodução
Aliás, a senhora teve um embate recente com o ministro Guedes e o acusou de ter contribuído para a o Plano de Previdência Social do Chile, onde, ao que parece, e é o que vem sendo denunciado a nível internacional, os idosos estão morrendo, muitos se suicidando, porque não conseguem viver com aquilo que recebem em termos de aposentadoria, que é algo mais ou menos como querem no Brasil, com valores em torno de R$ 400, 00 por mês. Como foi o embate lá com o Guedes?
Naquela audiência, eu fiz várias perguntas para o ministro Guedes. A primeira pergunta foi sobre declarações do ministro sobre corrupção. Eu falei assim: ministro, por falar em corrupção, eu estou aqui com cópias de cinco jornais – a Folha de São Paulo, O Globo, Estadão, Extra e Correio Braziliense. Os cinco jornais trazem o senhor na capa dizendo que o senhor responde a processos por mau uso de dinheiro na capitalização dos recursos para aposentadorias. A segunda pergunta que fiz para ele foi a seguinte: ministro, todo mundo comenta na rua, que o senhor, convidado a fazer a Reforma da Previdência do Chile, copiou para nós um sistema de capitalização, o mesmo sistema que está matando os velhinhos do Chile. É verdade que o senhor contribuiu para isso? Ele não me respondeu e passou a me fazer acusações.
Na sua avaliação, o grande erro desta proposta de Reforma na Previdência ele consiste exatamente em que, onde está este erro?
O que o presidente Bolsonaro e seu ministro têm dito é que é preciso economizar R$ 1 trilhão. Ok. Mas vamos ver de onde eles querem tirar esse R$ 1 trilhão. O governo está cobrando aos grandes devedores da Previdência, os bancos, canais de televisão, as grandes empresas?  O Governo está tirando daqueles que ganham acima de R$ 10 mil? Não, o governo não está tirando desses. A maior parte deste dinheiro, cerca de R$ 800 bilhões, ele está tirando do regime geral da Previdência. Qual é o teto de aposentadoria no regime geral da Previdência? É de R$ 5.800,00. É disso aí que ele está arrecadando o R$ 1 trilhão de que ele precisa. Significa que ele está arrecadando de quem tem pouco. Uma pesquisa, que mostrei no meu último debate na Comissão da Reforma da Previdência, revela que, de 2012 a 2017, 78% das pessoas que se aposentaram pela Previdência, ganham menos que três salários mínimos. Pessoas que se aposentam com três salários mínimos é privilégio? O BPC, que é o Benefício de Prestação Continuada, aquele benefício que é pago aos idosos que comprovam que não podem se podem se sustentar. Eles recebem hoje o valor um salário mínimo e, na Reforma da Previdência, o governo quer jogar esse valor para R$ 400,00. Isso é privilégio? O grande problema da Reforma da Previdência é que ela é uma farsa? Quem a defende diz que ela combate privilégios mas no fundo ela tira daqueles que têm pouco ou nada têm.
A senhora tem conversado com o vice-presidente geral Hamilton Mourão e, ao que parece, andaram trocando amabilidades. A senhora acha que o vice pode assumir? A senhora acha que o Bolsonaro cai? A senhora acha que o Brasil está preparado para viver um terceiro impeachment de sua história? A senhora que o general Mourão tem perfil para ser um bom presidente da República?
Essas respostas eu não as tenho. Acho que ninguém tem. Mas o que eu estou vendo no país é a própria base do presidente Bolsonaro largando o governo. Nunca é demais lembrar que o presidente Bolsonaro tem a maioria do Congresso Nacional. Nem FHC, Lula, Dilma e Temer tinham, aqui no Congresso Nacional, a quantidade de parlamentares a favor deles do jeito que o Bolsonaro tinha quando se elegeu. A verdade é que hoje o presidente Bolsonaro já não tem nem a base do lado dele. É tanto que ele está com dificuldades de aprovar a medida mais importante do governo dele, que é aquela que vai definir o tanto de ministérios que ele vai ter. Nem isso ele conseguiu aprovar porque ele não dialoga, ele vive esculhambando com todo mundo.  Agora a gente ver na televisão, o PIB nacional, as pessoas que representam a economia do Brasil, dizendo algo como assim: rapaz, esse negócio aí não vai dar certo não e já estão largando o presidente da República e ele está perdendo a condição de governar. As pessoas não botam mais fé nele e isso é um primeiro sinal para um presidente cair. Se ele vai cair, eu não sei.

Em entrevista, a deputada falou sobre o cenário político nacional, estadual e municipal/Foto: reprodução
E o general Mourão?
Quando eu procurei o vice presidente Mourão, é porque o conheço desde os tempos dele no Exército, nas Forças Armadas e sei que ele é um entusiasta do debate sobre os problemas e limites de fronteira. Eu estou sendo insistente em dizer: os problemas de segurança pública no Acre só pioraram. Está circulando mais armas e mais drogas, havendo mais assassinatos e mais violência e as pessoas não têm mais liberdade de sair de casa. Principalmente à noite. Paralelo a isso, nós temos uma fronteira aberta. E o governo federal está inclusive fechando alguns postos da região e diminuindo a quantidade de funcionários e deixando a fronteira brasileira mais aberta. Por isso eu fui ao vice-presidente Mourão e pedi: nos ajude! Vá ao Acre, chame os outros governadores e vamos discutir isso. Aliás, eu sugeri ao governador do Acre que ele convidasse pessoalmente o vice-presidente Mourão para que ele pudesse ir ao Estado ajudar a gente a pelo menos tentar diminuir a violência. Para mim, a violência está ligada a entrada de drogas e armas na nossa fronteira.
E aqui, a senhora acha que o governador Gladson Cameli termina bem o Governo?
Como ele vai terminar, eu não sei. Mas, há cinco meses de Governo, eu estou ouvindo as pessoas dizerem assim: o governo agora está pior do que antes. O governador Gladson Cameli quer continuar ouvindo essa cantiga de que o governo dele está pior do que antes? Até quando o governador vai segurar essa cantilena de que seu governo é pior que os outros, do que anterior? As pessoas votaram nele achando que ele iria ser melhor e no entanto o que se ouve é isso. Eu devolvo a pergunta para ele: até quando o senhor vai permitir que as pessoas digam que seu governo é pior do que o anterior?
E em relação à senhora, em relação ao seu futuro? A senhora vai buscar uma reeleição, como a senhora ver as chances de disputa de um novo mandato? A senhora acha que a Frente Popular tem chances de voltar ao governo quando e como, como e com quem? 
Eu penso que, mesmo que se nós tivéssemos ganhado às eleições e o nosso governador fosse o Marcus Alexandre, a Frente Popular já não existiria mais em si como era. Eu penso que é preciso a gente rediscutir, na próxima eleição, para as prefeituras, para vereadores, de acordo com a realidade de cada município. O PC do B está pronto para discutir com as forças políticas de cada município. Quem estiver disposto a se opor às péssimas administrações da localidade, a gente quer sentar e discutir melhorias nas prefeituras e nas cidades. O PC do B está discutindo sim a possibilidade de ter candidaturas em várias regiões. Ou fazendo alianças em torno de candidaturas. Vamos ver como será possível em Assis Brasil, em Tarauacá, no Bujari, Thaumaturgo, Jordão. Enfim, o PC do B tem candidaturas em vários lugares.
Inclusive em Rio Branco?
Inclusive em Rio Branco. Nós temos nomes como o do Edvaldo Magalhães, do Jenilson Leite (deputado estadual), do dr. Eduardo Farias (vereador em Rio Branco). Agora, nós queremos conversar. Todos os partidos estão aí botando nomes na rua. O PC do B também está discutindo isso. Eu não sei se a prefeita (Socorro Neri) é candidata (à reeleição). Até agora ela não procurou o PC do B para conversar sobre isso. Mas, mesmo que ela seja ou não seja, penso que ela deveria procurar conversar com os partidos. O PC do B está especulando, igual aos outros partidos estão, porque não íamos deixar de debater e discutir isso.

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