Alexandre Garcia: "Caminho para as mudanças é o fim da passividade"
Na minha idade, já vi muitas manifestações, nunca como agora. Em 1964,
as marchas pela família e liberdade, que ajudaram a tirar o presidente
João Goulart; em 1983, multidões encheram as praças do país no movimento
das Diretas Já, que ajudou a encerrar o período militar; em 1992, os
cara-pintadas encheram as ruas e ajudaram a tirar o presidente Fernando
Collor.
Deixaram uma lição: tirou-se um presidente sem que nenhum cara-pintada
tivesse quebrado uma vidraça, sem que nenhum general tivesse lustrado a
espada. Foi feito na lei e na ordem. Lei e ordem que foram sinal de
maioridade democrática.
Hoje, o que pode mudar com o movimento dos jovens, espontâneo, acima de
partidos, pacífico? Uma faixa, no meio deles, dizia: povo passivo -
corrupção ativa. O caminho para outras mudanças seria promover o fim da
passividade, da indiferença que não nos faz cidadãos plenos.
O preço das passagens desencadeou os gritos contra todas as mazelas do
país, que estavam trancados nas gargantas. Educação, saúde, segurança,
transporte público, estradas, corrupção, impunidade - veio tudo, nas
capitais, no interior, no exterior. No exterior falaram em primavera
brasileira. Será esse um despertar, um desabrochar, florescer, ou vai
murchar depois que cessar a oportunidade de exposição que veio com a
Copa?
Hoje, a voz das ruas é eloquente, dizendo: isso é com vocês,
indiferentes, eleitores e eleitos. Os jovens os estão sacudindo para que
acordem.
G1