'Deixava de comer para comprar o material da escola, diz ex-doméstica que formou sete filhos no interior do Acre
Francisca Conceição ficou viúva aos 33 anos e criou os oito filhos sozinha; 'ela é a razão de todos nós estarmos bem hoje', diz uma das filhas.
O andar calmo de
alguém que já trabalhou muito, mas hoje não precisa ter mais pressa, além do
sorriso simples e sempre aberto que conseguem abafar as dificuldades do
passado. É assim que pode se falar sobre a aposentada Francisca Silva da
Conceição, de 60 anos. Após a morte do marido, ela teve de criar sozinha os
oito filhos e apesar das dificuldades garantiu que sete chegassem ao ensino
superior.
Francisca
morava com o marido no Seringal Curupari, uma colocação às margens do Rio Juruá
no Amazonas. Quando os filhos começaram a crescer, ela e o marido se mudaram
para Cruzeiro do Sul, no interior do Acre.
“A gente veio
para cá para dar uma vida melhor pra eles. Eu não queria que eles tivessem a
mesma vida que eu, eu não sabia ler e queria que eles pudessem ler pra mim”,
conta.
Os planos
sofreram um revés quando o marido dela morreu em 94, deixando a mulher, então
com 37 anos, sozinha para cuidar da família. A prioridade, porém, não mudou. A
mulher seguiu em frente com o plano de garantir o futuro da prole.
“Coloquei todos
eles para estudar. Para mim era a prioridade, eles tinham que estudar. Deixei
de comer muitas vezes para poder comprar o material da escola, e quando [os
filhos] foram crescendo, trabalhavam para ajudar a comprar o material dos
menores. Tinha dias em que eu ia trabalhar e não tinha nada para eles comerem
em casa”, lembra.
O esforço
acabou gerando resultados. Um dos filhos se tornou policial militar, outro
policial federal, há ainda uma agente penitenciária, uma atendente do Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e outra que trabalha como supervisora
de vendas em uma rede de supermercados, além de um que é funcionário do Ibama.
Todos com diploma de ensino superior. Apenas um dos filhos desistiu de fazer
faculdade, para seguir o sonho de ser caminhoneiro.
'Ela é a razão de todos nós estarmos bem'
A agente
penitenciária Francisca Conceição de Freitas, de 30 anos, é uma das filhas da
aposentada. Ela diz que as dificuldades acabaram fortalecendo a família.
“Foi muito
difícil sabe? Eu era bem criança quando perdi ele [o pai] e minha mãe ficou
sozinha para poder criar todos nós. Eram dias de não ter o que comer, ela
mandava a comida que ganhava no trabalho para dividir para todos nós. Todos nós
tínhamos consciência da luta dela não tinha como ignorar isso, ela era nosso
exemplo”, afirma.
Para Francisca
Adilene Freitas, de 43 anos, a filha que atua como supervisora de vendas e mora
em Rio Branco, tudo que foi conquistado por ela e pelos irmãos se deve a
presença da mãe. “Minha mãe foi a força que nós tivemos para fazer dar certo,
porque quando eu pensava em um futuro melhor eu não pensava só para mim, mas
para ela e todos os meus irmãos, ela é a razão de todos nós estarmos bem hoje
porque ela enfrentou o lado ruim lá atrás”, finaliza.