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Adolescente leva bebê às aulas no AC e não pensa em desistir: 'desejo um futuro melhor para ela'

Aila das Neves tem 16 anos e cursa o 3º ano do ensino médio, em Rio Branco. Na mesma escola, outra adolescente leva uma babá para cuidar do filho de um ano.


Por Quésia Melo, G1 AC, Rio Branco
Aila amamenta criança dentro da sala de aula e diz que colegas e professores a apoiam para cuidar de bebê (Foto: Cynthia Karla/Arquivo Pessoal)
Mãe aos 16 anos, a adolescente Aila Otília das Neves leva a pequena Adélia Fernanda, de quatro meses, todos os dias para a sala de aula na escola Clícia Gadelha, no bairro São Francisco, em Rio Branco. A estudante cursa o 3º ano do ensino médio e enfrenta dificuldades para conciliar os estudos com a maternidade, mas afirma que nunca pensou em desistir da escola, pois quer um futuro melhor para a filha.

A adolescente encontra apoio nos colegas de sala e nos próprios professores. Ela relata que durante uma prova de espanhol a pequena Adélia começou a chorar e a professora segurou a criança no colo para que Aila pudesse terminar a prova. O sonho de Aila é se formar em Direito e poder ajudar pessoas menos favorecidas.

“Eu desejo um futuro melhor para ela, estou aqui hoje porque quero que ela possa ter as coisas que quer. Não é fácil, tem dias que a gente pensa que poderia ficar em casa e não ir mais para aula, mas faço isso por ela. Quero ajudar as pessoas, por isso penso em fazer faculdade de Direito. É tudo muito difícil, mas minha filha é minha inspiração para continuar”, diz.

A adolescente já tinha 16 anos quando descobriu a gravidez e diz que achou uma situação normal. Ela diz que conheceu o pai da filha, que hoje tem 19 anos, há mais de dois anos quando ela tinha 14 e ele 17. O casal mora na mesma casa que os irmão de Aila. A estudante conta ainda, que nunca procurou uma creche, pois acreditar que a filha está mais segura com ela.

"Não pensei, em nenhum momento, que minha filha fosse causar algum problema na minha vida. Quero ela comigo, enquanto eu puder ela vai ficar do meu lado", destaca.
Mesmo com todo apoio que recebe dos colegas, adolescente diz que precisa de ajuda com doações de fraldas (Foto: Quésia Melo/G1)

Aila mora próximo à escola e vai andando para a instituição todos os dias empurrando o carrinho com o bebê. Algumas vezes faz o percurso com a ajuda de um sobrinho, mas diz que geralmente segue sozinha. Na bolsa, leva roupas, remédio para cólicas e uma chuquinha para dar água à filha.
“Ela fica dentro da sala comigo, quando está com fome amamento e nunca tive problemas. Às vezes quando tenho que fazer alguma coisa uma colega pega minha filha para eu escrever o que está no quadro ou responder alguma questão e depois me devolve”, relata.

Na hora de fazer atividades da escola em casa, a criança fica com os irmãos, segundo Aila. A adolescente também mora com o pai da criança, que tem 19 anos, e ajuda com os afazeres domésticos e cuidados com o bebê. Eles começaram a namorar quando ela tinha 14 anos.

“Por um lado seria bom ter uma babá, pois às vezes quero fazer uma atividade e ela quer colo, não quer ficar no carrinho. Sei que isso é difícil, mas seria interessante se tivesse um local melhor para trocar ela, como um fraldário. De resto não tenho o que reclamar da escola”, afirma.

A adolescente conta que recebe muita ajuda com roupas para a filha, mas sempre precisa de fraldas descartáveis. Nesta sexta (14) quase não vai à aula, porque a filha estava sem fraldas, mas na última hora a madrinha da pequena apareceu com um pacote. Aila pede doações de fraldas e demais mantimentos e diz que toda ajuda será bem vinda.

“É uma situação muito complicada, às vezes não tenho dinheiro e preciso dessa ajuda. As pessoas me apoiam, doam roupas, mas gostaria de receber mais fraldas”, pede.
Babá na escola
Na mesma escola em que Aila estuda, outra mãe também enfrenta os desafios da maternidade na adolescência. Tiffany Rezende, de 17 anos, é mãe do pequeno João Arthur, de um ano e nove meses, e leva uma babá para cuidar do filho. A mãe também cursa o 3º ano do ensino médio e diz que mesmo com toda a ajuda que recebe às vezes precisa sair mais cedo da aula quando o filho chora muito.
A estudante descobriu a gravidez quando ainda tinha 15 anos e o pai, segundo ela, tinha 18. Tiffany e o pai do bebê não vivem juntos e ela mora na casa dos pais onde recebe apoio da família. A adolescente afirma que optou por não colocar o filho em uma creche com medo de que ele sofresse alguma tipo de maus-tratos.
"Pensei nessa ideia de deixar ele em uma creche, mas fiquei insegura e com medo de que fizessem algo ruim com meu filho. Com a babá eu posso sempre ver o que está acontecendo e se tiver algum problema eu pego ele rapidamente", explica.
Tiffany entra na aula às 13h15, mas às 11h começa a arrumar a bolsa do bebê, lancheira, brinquedos, fraldas e outros itens. A mãe diz que nunca amamentou dentro da sala de aula e quando o filho tem fome ela sai e o pega com a babá.

“A babá vem todos os dias. Eu, graças a Deus, nunca sofri preconceito. Meus colegas sempre me ajudaram, assim como professores. Ninguém nunca me falou nada. Mas, já teve situações mais complicadas que o bebê não parava de chorar e tive de ir para casa”, conta.

Em casa, enquanto Tiffany estuda, os pais cuidam do pequeno João para que ela possa fazer os trabalhos e atividades da escola. “Meus irmãos também ficam com ele e posso fazer tudo de maneira tranquila. Como recebo muita ajuda, nunca pensei em desistir da escola. Não é fácil, mas independente de tudo sonho com a minha formação e sei que isso é importante para o futuro do meu filho”, destaca.

A jovem afirma que vai fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano e pretende cursar pedagogia. Tiffany é apaixonada pela área de ensino e diz que o filho é uma inspiração diária para que ela se mantenha forte todos os dias.

"Quero meu filho do meu lado sempre e não acredito que ele atrapalhe meus sonhos. Eu o amo e ele só me traz coisas boas", ressalta.
Apoio escolar
O coordenador de ensino da escola, Elton Santos, diz que tentam ajudar e auxiliar as adolescentes o máximo possível, seja com conversas, incentivo e até conscientização.

“A grande maioria das pessoas na escola mostrou esse lado humano. Então, percebo que existe uma fraternidade muito grande entre as alunas. Ela amamenta dentro da sala e tenta se organizar o máximo possível com a ajuda das colegas”, diz.

A professora Cynthia Karla explica que a escola trabalha temas relacionados à sexualidade, mas não possui um trabalho específico de conscientização da gravidez na adolescência. A educadora fez uma foto de Aila amamentando na sala de aula enquanto escrevia o conteúdo do quadro e diz que a adolescente é uma guerreira.

“Não postei a foto para incentivar o que foi fotografado, mas para mostrar que as pessoas não devem julgar a vida dos outros. É preciso se colocar no lugar da pessoa, pois é uma situação complicada. Queremos que elas tenham um futuro, todas são fortes e guerreiras”, finaliza.
Direção da escola diz que tenta ajudar alunas com apoio, incentivo e até doações (Foto: Aline Nascimento/G1)


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