Mulher diz ter sido obrigada a casar com homem 43 anos mais velho que ela no Acre: 'trocada por motor'
Maria Angelita foi obrigada a casar aos 15 anos de idade. Hoje, aos 35, ela conta como tomou coragem de deixar o ex-companheiro que a agredia.
Por Anny Barbosa, G1 AC, Cruzeiro do Sul
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A história da doméstica Maria Angelita, de 35 anos,
parece ter saído de um filme. Aos 15 anos, ela afirma ter sido trocada por um
motor de barco e obrigada a casar com um homem 43 anos mais velho, em Porto Walter,
cidade que fica no interior do Acre. Com esse homem, ela viveu por 18 anos e
conta que as agressões eram constantes.
Foi numa palestra sobre violência
doméstica, em Cruzeiro do Sul, que o G1 encontrou com Angelita.
Ela diz que viu sua vida mudar
quando foi passar uns dias com os tios em Porto Walter. “Eu fui obrigada a
ficar com ele, eu não queria. Ele [tio] me dizia que se eu não ficasse com o
homem eu ia apanhar. Fui vendida quando eu tinha 15 anos”, relata.
Angelita era órfã de pai e mãe e
morava com o avô quando foi visitar os tios. “Eu chorei todos os dias por 18
anos, eu nunca tinha tido um namorado, nunca, e fui obrigada a casar. Ele foi a
pior coisa que poderia ter me acontecido”, desabafa.
Da relação com o ex-companheiro, a
doméstica teve 4 filhos. “Ele me batia na frente deles e depois começou a bater
neles, eu queria ir embora mas não ia por causa dos meus filhos”, justifica.
Quando o filho mais velho completou
16 anos, Angelita viu a oportunidade de abandonar a vida no seringal Nova Vida,
localidade isolada que fica a um dia de viagem de Cruzeiro do Sul.
“Ele achava que eu não tinha coragem
de ir embora, dizia que se eu fosse ia voltar e eu tinha medo dos meus filhos
passarem fome. Não tem dor maior do que você não saber o que daria pros seus
filhos comerem, mas eu cansei dele. Quando os meus filhos foram crescendo a
violência foi só aumentando”, conta.
Foi em 2014 que Angelita tomou coragem e foi embora com
os filhos para Cruzeiro do Sul. “Conversei com a minha tia e ela disse que ia
me ajudar. Passei minha vida toda sem amor e sem carinho, trancada dentro de
uma casa, vivendo com um homem ruim. Ele é uma pessoa ruim”, diz.
Angelita trabalha como doméstica em
Cruzeiro do Sul e frequenta o Centro Especializado em Atendimento à Mulher,
onde recebe todo o apoio.
A coordenadora da unidade, Rosalina
Souza, revela que nos primeiros encontros Angelita não conseguia nem encarar as
pessoas. “Ela começou a fazer artesanato terapêutico, foi quando descobrimos
que ela teve toda a vida comprometida com a violência que viveu”, conta a
coordenadora.
Rosalina encoraja outras mulheres a
fazerem o mesmo que Angelita. “Eu gostaria que as mulheres pudessem ver que
elas não estão sozinhas, sabe? Elas podem pedir ajuda. Se vocês acham que estão
fazendo pelos filhos estão enganadas, eles precisam das mães vivas e felizes”,
finaliza.
