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Confissões [incriminadoras] de um ex-aliado

Na Emurb se resolvia do alfinete ao foguete”, disse o ex-presidente da Emurb, Jackson Marinheiro ao prestar esclarecimentos ao juiz Cloves Augusto Alves Cabral, da 4ª Vara Criminal de Rio Branco, em audiência de conciliação e julgamento, na última sexta feira, 6. Apontado como líder e operador da organização criminosa que desviou cerca de R$ 7 milhões de reais da empresa desde 2011, Marinheiro demonstrou frieza e tranquilidade fora do normal ao falar ao juiz, promotores e advogados. E conforme o esperado, tratou trazer para dentro do processo o ex-prefeito Marcus Alexandre – PT. Revelou que havia pagamento de medição em obras não realizadas e que parte do pagamento dos cabos eleitorais em campanhas eleitorais “era feito pela Emurb e que não tinha limite para contratação, pois a orientação era trabalhar a qualquer custo para manter a política, para vencer as eleições”.

Questionado se esse tipo de operação fraudulenta ocorria na gestão do prefeito Raimundo Angelim, Marinheiro afirmou que isso não ocorria. “Ele nunca me pediu nada. Na gestão do prefeito Angelim teve uma eleição, a de 2012, e nós participamos de um Comitê e eram viabilizadas algumas coisas, mas nessa época não existia… essa equipe não era formada. Era o Jorgeney que coordenava mais essa parte na época do Angelim. Não sei de que forma, mas sei que teve ajuda”, destacou.
Jackson afirmou que os pedidos para atender demandas políticas começou de 2013 para 2014. “A maior parte dos pedidos eram feitos pela Casa Civil. Alguns pedidos que eram para presidente da associação de bairros. Alguns pedidos que chegavam eram documentados. Outros eram por telefone. Eu tava no trecho, tinha que ajudar alguém. Eu tava no trecho, numa reunião e ligava dizendo que “tinha que fazer assim e assim’. Aí eu já ligava para o Evaldo ou para o Gato ou o Jorgeney e eles tinham que providenciar”, revelou.
Apesar de ser o principal executivo da empresa, Marinheiro negou saber como os seus diretores faziam para conseguir o dinheiro, mas sabia que existia uma medição que não era correspondente ao serviço prestado e afirmou como eram atendidas as demandas de outras secretarias. “Das outras secretarias o prefeito pedia e dizia que a Secretaria de Articulação Comunitária não vai ter combustível e esse mês vai ter que ter uma ajudar. Vocês vão ter que dar um jeito de mandar uma ajuda. Articulação para Semsur, tem que locar algum equipamento para eles. Era dessa forma. Eles solicitavam para mim e eu passava para o Jorgeney”, disse.
Sobre o desvio de combustível, Jackson negou e argumentou que “muitas vezes os funcionários, por falta de veículos, utilizavam o próprio carro para fazer algum tipo de serviço. E ai eu autorizava”.
Sobre os Pagamento de gratificações mensais para membros da diretoria, Marinheiro diz que existiam ajudas, mas não mensais e afirma novamente que suas tratativas era com o executivo e que poderia muita coisa acontecer sem o conhecimento dele. “Eram centenas de processos, não tinha como eu saber”, ponderou.
Com relação aos pedidos do prefeito Marcus Alexandre, Marinheiro afirmou que não tinha como recusar. “A diretriz de como a empresa deveria funcionar partia do prefeito. Como eu disse, não tinha como eu escolher se vou por essa linha ou se vou fazer outra medição sem um pedido, sem uma direção”, explicou, dando a entender que só atuava se recebesse uma ordem.
Jackson negou ainda que determinava qual era a empresa que deveria receber recursos e diz que só ficou sabendo de como as empresas eram escolhidas após a leitura dos autos na delação. “Pelo que eu vi na delação, parte das conversas eram feitas através do Evaldo, parte com o Jorgeney. Eles recebiam o recurso e levavam. Eu nunca entreguei recurso algum. Eles recebiam as demandas e entregavam a quem era devido”, destacou o executivo afirmando ainda que conhecia alguns sócios das empresas mencionadas nas denúncias, mas que não tinha nenhuma amizade pessoal. “Eu não recebi nada de nenhum empresário, de nenhuma pessoa de cunho próprio, nem para distribuir para alguém ou levar para alguém. Eu não peguei em dinheiro, nem na minha conta, nem em espécie”, negou.
Sobre a participação dos demais diretores da empresa no esquema, Marinheiro revelou que Jorgeney, José Carlos Fernandes, Evaldo, Franklin Roberto, José Raimundo Moura e Osias Silva tinham ciência do que acontecia, mas que não sabia afirmar se eles recebiam “algo por fora”.
DINHEIRO PARA A POLÍTICA
Marinheiro confirmou ainda em seu depoimento o que o delator Gerson Kennedy havia relatado: o dinheiro sujo da Emurb financiava campanhas políticas da Frente Popular. “Sim [existiam recursos], não só no período da eleição, mas também antes do período da eleição, mas também no pós-eleição porque ficavam contas para pagar. Agora eu não sei precisar quem seriam, mas no momento oportuno, quando eu puxar da memória, eu consigo lembrar de algumas coisas. Agora eu não consigo me lembrar”, disse.
O executivo afirmou ainda que o dinheiro era direcionado para candidaturas majoritárias, tanto estadual como municipal, como para o candidato a prefeito, vereadores. “Eu me reservo no direito agora de não citar nomes. Houve também para vereadores, deputados, mas também não prefiro citar nomes”, silenciou.
“O que quero dizer é que realmente a empresa funcionou ao longo desses anos para atender os interesses do projeto de gestão e político que ali estava. E, também, que o trabalho da Emurb tinha apenas a finalidade para empresa e para fins políticos e ainda confirmou que certa vez uma demanda do prefeito pedia dinheiro em espécie para pagar o consorcio ou financiamento de um homem identificado como Franciney, da cidade de Cruzeiro do Sul. “Eu não queria falar nomes agora, mas no momento oportuno, eu tenho muita coisa para falar.”, voltou a citar o mesmo discurso. Ele ainda disse que não tem conhecimento que provas do esquema haviam sido destruídas.
Questionado pelo Ministério Público se seria o topo da organização criminosa na Emurb, Marinheiro reafirmou que nada havia partido dele. “Eu volto a afirmar que a empresa tinha uma direção a seguir, que era o trabalho. Quem dá a política de como deve seguir é o meu superior hierárquico, na época o Marcus Alexandre”, disse.
O ESQUEMA NA ELEIÇÃO E CONTRATAÇÃO DE PESSOAL
Indagado como o esquema era executado no período eleitoral, Marinheiro revelou que parte do pagamento dos cabos eleitorais “era feito por dentro da campanha”, mas “que boa parte” era pela Emurb. “Nós éramos responsáveis por dois bairros. O São Francisco e o Tancredo Neves. Assim como toda secretaria era responsável por uma região. Pessoas com afinidade com os presidentes dos bairros eram colocadas para trabalhar nos trechos. Eu posso dizer que não tinha limite para contratação. A orientação era trabalhar a qualquer custo para manter a política, para vencer as eleições”, enfatizou. “Na Emurb se resolvia do alfinete ao foguete”, pontuou.
Questionado por seu advogado, Valdir Perazzo, Marinheiro revelou que todo o patrimônio que acumulou em vida foi fruto de seu trabalho. “A minha vida foi de muito trabalho”, contou.
E já no final disse que “não sou contra tudo o que o MP fez, acho que tem que se apurar sim. Agora que se chegue no foco da verdade e do objetivo, porque até hoje eu sofro na mídia, a toda hora, meus filhos ouvindo, atribuindo a mim um desvio de R$ 7 milhões, como se fosse eu que tivesse desviado esse dinheiro. A minha vida acabou. Sei que cometi erros administrativos, devo responder por eles, mas a forma de como se conduziu, eu não sei quem alimentou a imprensa. Eu na verdade servi de Boi de Piranha. Joga esse rapaz aqui para se ferrar em detrimento de outra situação maior”, disse.
Nos bastidores, comenta-se que Marinheiro adotou uma postura mais comedida de não revelar nomes e detalhes para “guardar como trunfo”. Apesar de não confirmar, uma delação pode ser formalizada caso o MP ache interessante.
ac24horas

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