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“Aqui é o lugar mais tranquilo de se trabalhar, morto não faz mal a ninguém”, diz coveira

Joseline disse já chegou a realizar 7 sepultamentos em um único dia, mas que tenta manter o profissionalismo e não se envolver em tudo sentimentalismo


Quem vê Joseline Barroso, com porte físico tão pequeno e magro, nem imagina quanta força ela necessita para exercer sua profissão. A roupa suja não esconde a vaidade, com cabelos vermelhos, unhas feitas e maquiagem, ela aparenta ter ainda menos idade do que realmente tem. Ela tem 32 anos, é funcionária pública e fala com orgulho que estudou muito para passar em um concurso público, há 5 anos é coveira no cemitério São João Batista, o cemitério municipal mais antigo de Rio Branco, fundado há 110 anos.
Coveiro, ou sepultador, é o profissional que trabalha garantindo a organização dos cemitérios, a limpeza das covas e jazigos, cavando e cobrindo sepulturas, carregando caixões, realizando sepultamentos e exumações, entre outras funções. Para ser um coveiro, o profissional não pode ser facilmente impressionável e deve ser corajoso, características facilmente identificáveis em Joseline. Ela conta que não faz ideia de quantos sepultamentos realizou durante o tempo dedicado à profissão.
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Joseline Barroso diz que adora trabalhar no cemitério e sente orgulho da profissão /Foto: Nany Damasceno-ContilNet
A coveira conta que no seu dia a dia trabalhando entre os túmulos nunca se deparou com nenhuma história assustadora: “Aqui é o lugar mais tranquilo de se trabalhar, morto não faz mal a ninguém. Aqui só estão os corpos, tem gente que inventa histórias, aqui mesmo não acontece essas assombrações que o pessoal conta por ai não, é um lugar de paz”.
Nestes 5 anos de vida dedicada a uma profissão, que exige muito esforço físico e emocional, Joseline disse já chegou a realizar 7 sepultamentos em um único dia, mas que tenta manter o profissionalismo e não se envolver em todo sentimentalismo que sua profissão tem que lidar: “É um momento difícil para a família, tanta gente chorando sofrendo, mas eu tento pensar que esse é meu trabalho e pronto, é um trabalho como outro qualquer, quando saio daqui deixo tudo que vivi do portão pra dentro. Lá fora está a minha vida e minha família, não deixo me abalar”, explica.
Mas mesmo com todo o esforço em não levar a tristeza que presencia para a vida pessoal, ela lembra que em algumas situações isso se torna impossível: “Eu sou muito forte e dificilmente me abalo, mas se tem algo nessa profissão que me abala e eu gostaria de não fazer é o sepultamento de crianças. Eu sou mãe e então eu olho para as mães chorando e me vejo ali, olho para o caixão pequenino e é meio doloroso, mas lembro em seguida que esse é meu trabalho e tenho que fazer”, confessa Joseline.
Além de preparar sepulturas, outra função dessa profissão é a de limpar o interior das covas já existentes. Barroso conta que fazer exumação é a experiência que mais a impressionam: “Uma vez, fomos retirar um corpo de um homem enterrado há mais de 10 anos para fazer o procedimento de limpeza da cova. Eu lembro que quando abrimos o caixão o corpo estava conservado, ainda tinha carne por todos os membros. Achei impressionante! Foi uma cena que marcou”.

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