Jovem com paralisia se forma em letras na Ufac e sonha em escrever livro sobre sua vida
Rita de Cássia quer escrever livro e se dedicar à bocha. “Disse sim para as lutas que me ajudariam destecer fio a fio minha molenga estrutura de boneca de pano”, diz o trecho do livro.
Por Tácita Muniz, G1 AC — Cruzeiro do Sul
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Um ciclo de quatro anos que se
encerrou há alguns meses. Acometida com paralisia infantil, os caminhos de Rita
de Cássia, atualmente com 24 anos, sempre foram cobertos de desafios e não pela
deficiência, mas sim por acessibilidade ou pela falta dela.
Após ser aprovada na 7ª chamada do
Sisu em 2015, aos 20 anos na época, a estudante encarou o
curso de letras na Universidade Federal do Acre (Ufac), no campus Floresta, em
Cruzeiro do Sul. Apaixonada por literatura, Rita sempre sonhou em fazer um
curso superior na área que sempre quis atuar.
Foram quatro anos de muitas vitórias,
mas também percalços. O primeiro deles foi esbarrar na falta de cadeira de
rodas na universidade.
“Lá
[campus Floresta] não tinha nenhuma cadeira para me receber. Para eu poder, de
fato, estudar na Ufac, tiveram que pedir uma cadeira emprestada da Escola de
Ensino Médio Dom Henrique Ruth. Eu lutei para a Ufac comprar a cadeira desde o
primeiro período e só consegui esse privilégio quando eu praticamente já estava
saindo da universidade. Mas, agora está lá”, diz.
Mobilidade
Outro problema foi o transporte para
levar a estudante até a faculdade. Rita sempre foi atuante na luta por
acessibilidade, não só na faculdade, mas na cidade onde mora. Além de ser
atleta de bocha, é bailarina e
mantém uma coluna no jornal impresso local, onde escreve sobre perseverança e
inspira outras pessoas.
Chegar até a faculdade era difícil.
Ela contava com carona dos colegas de sala e depois passou a ser levada pelo
ônibus que faz a linha até a universidade, isso depois que ela procurou o poder
público para reivindicar o seu transporte.
“O secretário de transportes da
cidade me disponibilizou a equipe para me levar às aulas e aí, só depois,
fizerem um acordo com a equipe do ônibus que faz a linha para Ufac para me
levar e trazer”, relembra.
Mas, as lutas combatidas por Rita em
busca da acessibilidade e inclusão foram coroadas no dia 8 de maio, quando a
turma dela se formou e lá estava a estudante segurando o canudo imponente entre
os amigos e festejando o fim da primeira graduação.
Sobre os colegas, ela disse que
sempre foi bem acolhida por todos e que sempre manteve a admiração de quem
dividia a sala de aula com ela. Tanto, que na formatura foi certificada como a
melhor aluna da turma.
Hoje, Rita assume uma postura mais
madura do que quatro anos atrás. Como ela mesmo diz, o crescimento não pode ser
medido apenas pelo tempo, mas também pelos avanços pessoais e comunitários.
“Eu
quero inspirar as pessoas com tudo o que enfrentei para ser grande”, diz.
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Livro
Rita conta que deve dar um tempo nos
estudos para se dedicar à bocha e também a um livro que deve contar toda a sua
trajetória. Falando dos desafios e força de vontade que nunca a fez desistir de
estudar e conseguir vencer as adversidades.
Devido à paralisia, Rita digita
apenas com um dedo da mão. Também tem dificuldades na fala, por isso, usa a
escrita para contar tudo que passou. Apaixonada por literatura, em tudo ela
tenta ver poesia e ao G1mostrou o pequeno
trecho da obra literária que pretende lançar em breve.
“O ano era 1999. Tinha acabado de
completar 4 anos, quando sai da caixinha de costura e mentalmente eu disse sim
para as lutas que me ajudariam destecer fio a fio minha molenga estrutura de
boneca de pano. Sim! Eu disse boneca de pano. Eu era literalmente uma! Daquelas
moreninhas, bem mimosas, com cheiro de lavanda. A que cabia no bolso e possuía
olhos negros feito botões ou jabuticabas. Usava sempre xuxinhas no cabelo.
Vivia de vestido. E quanto aos pés? Ah! Esses calçavam uns sapatinhos que me
deixavam muito vaidosa, por sinal. Mas, toda essa formosura morria em vida
quando eu caía desmantelada em posturas aprumadas na primeira salinha de
estimulação precoce”, escreve.
Paralisia Infantil
A paralisia infantil ou poliomielite
é uma doença infectocontagiosa causada por um vírus, que pode causar a flacidez
muscular dos membros inferiores e pode levar a morte ou a sequelas paralíticas
irreversíveis.
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