Acre tem a maior taxa de feminicídios do país, aponta estudo
Dados são do Monitor da Violência, divulgados nesta quinta-feira (5).
Por Aline Nascimento, G1 AC — Rio Branco
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/K/T/GF9EZVSe2VRAAkorGbnQ/marias.jpg)
O Acre, novamente, aparece entre os estados brasileiros mais
violentos para as mulheres. Dados do Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de
Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostram
que o Acre tem a maior taxa
de homicídios contra mulheres e de feminicídios do país.
Os números utilizados
no estudo são casos registrados em 2018 e 2019. Segundo o balanço, a taxa de
homicídios dolosos de mulheres do Acre é a maior do país, com 7 mortes a cada
100 mil mulheres.
Já a de feminicídios
do estado acreano é de 2,5 para cada 100 mil mulheres. Essa é a mesma taxa do
registrada no estado de Alagoas (AL).
Em 2019, o Acre
registrou 31 homicídios dolosos contra mulheres, e destes, 11 foram
feminicídios, ou seja, casos em que mulheres foram mortas em crimes de ódio
motivados pela condição de gênero.
Já em 2018, o número
de homicídios dolosos de mulheres foi 35, sendo 14 de feminicídios. Neste mesmo
ano, o Monitor da Violência já havia revelado que o Acre tinha a maior taxa de
feminicídios do país, que era de 3,2 casos por 100 mil
mulheres.

Redução
Mesmo com as maiores taxas do país, o
estudo mostrou que houve redução nos casos registrados no período avaliado. A
redução de homicídios dolosos de mulheres foi de 11,4% entre 2018 e 2019.
Já de feminicídios, a redução foi de
21,4% no período avaliado.
Ao G1, o Governo do Acre
disse que vê com preocupação os casos de crimes contra as mulheres, mas
destacou a redução nos números gerais no período. Segundo o governo, foi criado
o aplicativo "Botão da Vida", em parceria com a Secretaria de Estado
de Assistência Social, Direitos Humanos e Políticas para as Mulheres ( SEASDHM)
e o gabinete da primeira-dama, Ana Paula Cameli.
A ferramenta é destinada para
mulheres que sofreram violência doméstica e estão sob medida protetiva. Em caso
de descumprimento do agressor, a vítima pode acionar a Patrulha Maria da Penha.
Por meio da ferramenta, a equipe chega até a foto da vítima e do agressor e o
número do processo.
"Se
a patrulha chegar ao local e averiguar o descumprimento, a simples aproximação
do agressor, caso seja essa a medida protetiva de se manter distante, é o caso
de prisão imediata, flagrante de descumprimento conforme a Lei 13.641/18, em
uma detenção que vai de três meses a dois anos. Antes, isso era apenas uma
contravenção, mas agora é crime. Sendo assim, a patrulha, bem como o Botão da
Vida, já se estabelecem como ferramentas de combate ao que se denomina de
‘absurdo fato’ de ter mulheres em situação de risco de morte, agressão física,
moral, bem como cerceamento de sua liberdade emocional", frisou o governo
em nota.
O governo
garantiu ainda que tem investido em projetos e ações que mapeiam os locais onde
há os maiores índicea de violência no estado. Uma das campanhas de combate é o
Acre Pela Vida, lançada recentemente.
"Além
disso, o governo tem constituído uma ampla rede de parceiros que atuam na
persecução penal, visando não só concluir os inquéritos, pela identificação das
autorias, mas ao tratamento das famílias que têm os seus direitos
violados", complementou.
Companheiros suspeitos
Maria
José Dória Maciel, de 46 anos, Maria Eliete da Silva dos Santos, de 27, e Maria
José Silva dos Santos, de 23 anos, são algumas das 11 vítimas de feminicídios
em 2019 no Acre.
Além do
primeiro nome em comum, as mulheres foram mortas brutalmente e os principais
suspeitos são os companheiros.
Maria José Dória Maciel foi
encontrada morta em novembro do ano passado dentro de casa no bairro da Várzea,
em Cruzeiro do Sul, no interior do Acre. Ela tinha marcas no pescoço, nos
braços e pernas, além de sinais de violência sexual.
Ao G1, o delegado Alexnaldo Batista,
responsável pelo caso, disse que o marido de Maria José se apresentou na
delegacia, mas foi liberado por não estar mais no período de flagrante.
Batista
acrescentou que o casal era usuário de drogas, fazia uso de bebida alcoólica, e
tinha discutido no dia do crime. As investigações apontaram que Maria foi morta
durante essa discussão, e o marido vai ser indiciado por feminicídio.
A mais
nova das vítimas, Maria José Silva dos Santos,
de 23 anos, foi morta com 45 facadas na frente dos filhos, em outubro do ano
passado, no bairro Conquista, em Rio Branco. O companheiro dela chegou a ligar
para a cunhada perguntando como a mulher estava e que tinha cometido o crime
porque estava sendo traído.
Ele
foi preso no mês de novembro em um
hotel da capital acreana. Porém, ele nem chegou a ser levado para o presídio de Rio
Branco e foi solto. Em janeiro deste ano foi preso
novamente por ter matado o padrasto também a facadas.
Maria Eliete da Silva dos
Santos, de 27 anos, morreu após ser agredida com socos e chutes
e levar várias facadas. O crime ocorreu em dezembro de 2019 na Rua do Porto, em
Mâncio Lima, no interior do Acre.
A Polícia
Civil informou que o principal suspeito do crime era o marido da vítima. O
delegado responsável pelo caso, Obetâneo dos Santos, disse que a motivação do
crime seria porque o homem não aceitava o fim do relacionamento. Maria Eliete
chegou a ser atendida por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (Samu) e levada para o hospital da cidade.
Por conta
da gravidade dos ferimentos, ela foi transferida para o Hospital do Juruá, em
Cruzeiro do Sul, mas não resistiu e morreu. Maria tinha três filhos com o
suspeito.