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Mulher cria coragem e deixa relação de 12 anos marcada por agressões e violência

No mês em que se comemora o Dia da Mulher, a ContilNet traz a história de mais uma guerreira que conseguiu se libertar de um relacionamento doentio, marcado por confusões, agressões e ciúmes exagerados. 
 ALAMARA BARROS, DA CONTILNET

Francian Lima, de 39 anos, natural de Manaus (AM) e que hoje mora em Rio Branco, é um exemplo de superação. Em 2004 ela criou coragem de deixar para trás um relacionamento de 14 anos, dos quais 12 foram marcados por agressões físicas, morais, psicológicas e emocionais. O mais delicado disso tudo é que ela teve que deixar também sua filha, fruto de seu casamento.
Como Francian resolveu sair dessa prisão? Ela conta que não foi nada fácil, por muitos anos ela tinha a esperança de que um dia de seu ex-marido pudesse mudar, ou pelo menos melhorar, o que a fez viver um tormento por muito tempo.
Ao sair grávida ela conta que ele não a agredia mais, o que aumentou ainda mais a esperança de que as coisas iriam melhorar, mas esse pensamento positivo só durou mesmo até o resguardo, quando ela novamente passou a ser vítima das agressões do ex companheiro. Chegando ao ponto de a própria filha, aos seis anos de idade, presenciar a mãe apanhando.

Francian deixou para trás um relacionamento abusivo e veio em busca da felicidade /Foto: ContilNet
“Meu pensamento era só de fugir, porque as vezes que eu tentei separar ele me ameaçava de morte, uma vez ele me esperou na porta do meu trabalho e me levou até a parada de ônibus, onde minha mãe costumava descer, quando ela apareceu, ele sacou uma arma e disse que se eu o deixasse ele a mataria, então eu fiquei muitos anos presa a esse casamento temendo que o pior acontecesse”, desabafou.
O ano da decisão de fugir definitivamente da cruel situação em que vivia foi em 2004, Francian conta que no momento um turbilhão de sentimentos tomava conta do seu ser. “Eu sentia medo, aflição e ao mesmo tempo sabia que era a oportunidade de me libertar daquela prisão, doeu muito ter que deixar minha filha para trás, que na época tinha 8 anos. Mas eu não tive outra escolha, porque se eu a tivesse trazido, ele viria atrás e poderia acontecer uma tragédia. Eu vim de barco, pois não tinha condições de vir de avião, saí de casa só com a roupa do corpo, foi quando eu saí pra trabalhar e não voltei mais. Quando cheguei aqui meu tio me deu moradia e me ajudou muito até eu conseguir um emprego”.
Francian trabalhava em uma joalheria em Manaus e relatou que era obrigada a passar toda a sua remuneração para o ex marido, com isso, para poder continuar ajudando sua mãe, ela precisou fazer um “caixa dois”, onde juntava parte das suas comissões sem ele saber.

Francian recuperou a autoestima e o orgulho de ser quem é /Foto: ContilNet
“Ele controlava tudo na minha vida, eu não podia passar um batom, usar roupas que eu gostava. As roupas tinham que ser bem fechadas e quando andávamos juntos nas ruas eu tinha que estar sempre de cabeça baixa porque ele sempre achava que eu estava olhando para outros homens. Era horrível, minha autoestima não existia mais, eu era uma mulher oprimida e triste”, completou.
Francian começou a namorar o ex marido aos 13 anos de idade, na época ele tinha 17 e desde o namoro ela já sofria agressões por parte dele, mas por amar muito o rapaz, ela tinha a expectativa de que ele um dia iria mudar, mas as coisas só se agravaram. Ela conta que a filha, que hoje está com 21 anos, não quer saber de reencontrar a mãe, para ela, Francian a abandonou. Ela já tentou uma reaproximação para que a filha a escutasse e entendesse um dia porque ela teve que fazer isso, mas a tentativa foi frustrada.
A mulher conta ainda como se sentia durante os anos de tormento dentro do relacionamento e que, além das agressões físicas, sofria também agressão psicológica e emocional. “Eu sentia medo, muito medo, não queria que outros homens se aproximassem de mim mesmo sendo amigos, tanto que para eu me relacionar com outra pessoa demorou muito, era algo dentro de mim lutando para ser feliz e ao mesmo tempo vinha um medo enorme, ou seja, eu temia passar por tudo aquilo de novo”.
A SUPERAÇÃO
Quando Francian chegou a Rio Branco a primeira coisa que ela fez foi ir em busca de um emprego, pois precisava ocupar sua mente e recomeçar uma nova vida para esquecer de vez o passado ruim. “Quando eu cheguei aqui falei para mim mesma que homem nenhum nunca mais tocaria em mim, porque eu vejo assim que se a gente souber a força de vontade e a coragem que existem dentro da gente, mas não conhecemos, nós conseguimos lutar pela nossa vida e principalmente pelo direito de ser feliz e de conquistar o que quiser. Hoje eu estou namorando, tenho um relacionamento tranquilo, consegui superar meus medos e limitações”.

“Há 7 anos eu me libertei, hoje eu posso falar sem medo” /Foto: ContilNet
Francian finaliza contando que depois de muito tempo ela voltou a se olhar no espelho e ver uma mulher dócil, feminina e que consegue realizar seus sonhos. Por ironia do destino ou não, hoje ela faz parte do quadro de funcionárias da Secretaria Municipal da Mulher e deixa uma mensagem a todas as mulheres que sofrem a violência doméstica e não teve coragem de se libertar ou dar um basta nisso.
“Há 7 anos eu me libertei, hoje eu posso falar sem medo, sem chorar, posso abraçar qualquer homem e achar isso normal. Sinto-me uma mulher bonita, gosto de me olhar no espelho e ter a liberdade de passar um batom, uma sombra escura no olho, posso usar uma mini saia e me sentir bem, pois passei muito tempo sendo uma mulher agressiva, amargurada, mas porque essa era a minha defesa por me senti só”.
Ela finalizou dizendo que agora é uma nova mulher: “Hoje a Francian dócil, alegre e serena ressurgiu (risos)! O recado que dou a todas as mulheres é que jamais deixem qualquer homem arrancar a sua essência, sua paz e principalmente, a sua integridade e dignidade. Que não tenham medo de denunciar e renunciar a prisão da violência doméstica, e que elas coloquem para fora a leoa que há dentro de cada uma delas, pois suas vidas valem muito e só temos uma”

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