Pais e filhos estudam na mesma sala para concluir o ensino médio no AC
Pai, mãe e os dois filhos estudam juntos em escola de Rio Branco.
'Um se inspira no outro', diz vendedor de peixes que estuda com a família.
Aos 43 anos de idade e fora da sala de aula há quase 23, o vendedor de peixes Francisco da Silva de Lima decidiu voltar aos estudos e concluir o ensino médio. Incentivado pela mulher, a autônoma Rute Dantas, de 38, ele se matriculou no Programa Especial de Ensino Médio (PEEM) junto com ela e os dois filhos, de 19 e 21 anos. O que eles não imaginavam é que iriam parar todos na mesma classe em uma escola estadual de Rio Branco.
Desde 2016, a família luta junto para terminar os estudos e poder fazer o Exame do Ensino Médio (Enem). Lima lembra que foi uma surpresa ser convidado pela mulher para voltar a estudar e viu ali a oportunidade de unir ainda mais a família por uma causa maior.
Foi então que o vendedor de peixes decidiu chamar o filho de 21 anos, que havia cursado apenas o ensino fundamental, e o enteado, de 19, que estava estudando o segundo ano do ensino médio em uma escola de ensino regular, mas sem muita dedicação. Segundo Lima, além de estudarem na mesma sala de aula, quando chegam em casa, eles trocam as experiências e se ajudam.
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"Um se inspira no outro. Eu me inspiro nos meus filhos e eles se inspiram em mim. Hoje meu filho me vê como um exemplo, disse que vai concluir o ensino médio e eu fico feliz com isso. É uma satisfação mesmo. Daí estudamos juntos, a disciplina em que um tem mais facilidade, ajuda o outro", conta Lima.
Tanto a mulher, como os filhos ajudam Lima na venda de peixes em um mercado na capital acreana. Além disso, um dos filhos também trabalha como diarista quando aparece alguma oportunidade. A rotina é cansativa, mas tem valido a pena, segundo ele.
"Todo dia é uma batalha. Acho que quem coloca as dificuldades somos nós mesmos e nosso comodismo. Nunca temos que desistir, porque o mundo está aí, cada dia pedindo que as pessoas se atualizem. Hoje para você conseguir um emprego precisa ter estudo", afirma o vendedor.
O próximo passo para a família é concluir os estudos e talvez cursar uma faculdade. “Quero muito conseguir fazer faculdade de engenharia civil. A ideia é estudarmos juntos para fazer a prova. Meus filhos ainda não decidiram que curso querem fazer e minha mulher está um pouco descrente, mas, com nosso incentivo, tenho certeza que vai dar tudo certo e vamos fazer juntos o Enem", diz animado.
O esforço da família é reconhecido. A professora de matemática, Djallene Rebelo de Araújo, de 45 anos, conta que eles não costumam faltar às aulas e que, principalmente, Lima, está sempre muito disposto a ajudar tanto os filhos e a mulher como o restante da turma.
"Desde o início, ele se destacou por, além de ser uma pessoa muito dedicada, ser aquele que integra a turma. Ele é uma referência mesmo, tanto para a família dele como para os outros alunos. Tem muitas habilidades e se destaca em todas as disciplinas. Sempre senta próximo da esposa, sempre ajudando e incentivando", conta a professora.
