Site Cultural de Feijó

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Eleições 2018: Nazareth Araújo conta detalhes de sua trajetória e do seu plano de governo para o Acre

A pré-candidata é filha do primeiro governador eleito pelo voto popular do Estado do Acre, José Augusto de Araújo

Maria Nazareth Mello de Araújo Lambert, de 50 anos, é natural do Rio de Janeiro. Filha do primeiro governador eleito pelo voto popular do Estado do Acre, José Augusto de Araújo, e da contabilista Maria Lúcia Mello de Araújo, nasceu fora destas paragens porque seu pai havia sido afastado do governo pelo golpe militar de 1964, sendo cassado pelo Ato Institucional nº 02, em 1966.
Neste mesmo ano, grávida de Nazareth, sua mãe se candidatou a deputada federal pelo Acre, sendo eleita a mais votada, como uma forma de demonstração do povo acreano de sua insatisfação diante da violência do regime militar. Logo depois, quando Nazareth tinha pouco mais de dois anos, sua mãe também foi cassada. Tais fatos, por certo, causaram graves transtornos e perseguições à família.

Maria Nazareth Mello de Araújo Lambert, pré candidata ao Governo pelo Partido dos Trabalhadores/Foto:Reprodução
Nazareth cursava a pré-escola quando seu pai faleceu, em 1971. Estudou o ensino fundamental da 1ª a 4ª série no Instituto Brasileiro. Depois cursou o ginásio (de 5ª a 8ª série) no Colégio Lobo da Cunha. Em 1981, ingressou na Escola Técnica Federal de Química, na qual cursou as duas primeiras séries do ensino médio profissionalizante.
Em 1982 acompanhou sua mãe na sua decisão de voltar ao Acre para retomar o sonho de seu pai. Maria Lúcia se candidatou ao cargo de deputada federal e ficou como a primeira-suplência.
No ano seguinte, Nazaré retomou o 3º ano do ensino médio no Complexo Escolar de Ensino Médio (Ceseme), em Rio Branco, atual Colégio Estadual Barão do Rio Branco (Cerb). Paralelamente, desenvolveu trabalho voluntário na Fundação de Bem-Estar Social do Acre (Fubesa), presidida, na época, por sua mãe.

Nazaré Araújo ao lado da mãe Maria Lúcia Mello de Araújo/Foto: Val Fernandes
Em 1985 prestou vestibular para Direito na Universidade Federal do Acre (Ufac), classificando-se em 2º lugar geral. Em 1986, Maria Lúcia de Araújo se elegeu deputada federal, representando a mulher acreana na Constituinte. Com isso, Nazareth prosseguiu seu curso superior na Universidade de Brasília (UnB), formando-se em 1991, com as habilitações específicas de Direito Constitucional e Direito Administrativo.
Três depois, concursada, ingressa na Procuradoria-Geral do Estado do Acre, exercendo as funções de chefe da procuradoria administrativa, corregedora-geral e, por último, procuradora-geral do Estado.
Em 2010 Nazareth se torna a subchefe da Casa Civil do Governo do Acre. Na campanha para reeleição de Tião Viana, em 2014, é eleita vice-governadora, cargo que exerce nos dias atuais.
Defensora de ideais democráticos, a política, na sua concepção, tão qual pensavam os gregos há mais de dois mil anos, é para servir e retornar aos cidadãos aquilo que é deles. “Precisamos de ações positivas que elevem o padrão de vida das pessoas, com o crescimento dos setores produtivos do mercado e uma organização proativa da sociedade e sua participação em conselhos”, assim concebe ela.

A pré-candidata, que já correu os quatro cantos do Acre, tem conteúdo e propósito político, além de muita simpática. Com direito a café da manhã em gabinete, ela recebe a nossa reportagem e concedeu a seguinte entrevista:
ContilNet- Como filha do ex-governador José Augusto de Araújo, qual é a sua responsabilidade política? Qual é o legado deixando por ele?
Nazareth- Ele é o meu grande referencial de vida. O legado é o amor pelo Acre e nossa gente. Quando o meu pai assumiu o governo do Acre, ele tinha um projeto progressista, ligado às reformas de base, mas com uma visão estratégica, geopolítica e do autodesenvolvimento da nossa região, o que acabou colidindo com os interesses das oligarquias locais. O sonho dele, como professor de Filosofia, era levar a educação para todos, concebendo-a como instrumento de transformação social, influenciado pelas ideias revolucionárias do educador e pensador Paulo Freire, que tinha experiência com as ligas camponesas do Nordeste.
Ele disse que iria reconhecer as cadeias dominiais que tivessem comprovação, porém, as que não tivessem seriam objetos de desapropriação para assentar quem precisasse de terra para trabalhar. Em recente viagem à região do rio Gregório [município de Tarauacá], quando eu vi uma criança linda e bem cuidada, aquilo me emocionou. Aquilo lembra meu pai. Aquilo me dá satisfação. Isso justifica a minha posição política. Isso justifica o meu trabalho dentro do Estado do Acre.
ContilNet- O escritor Fernando Sabino, em um dos seus muitos momentos felizes, escreveu a seguinte frase: democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um. Comente isso.

Nazareth em uma de suas agendas como vice-governadora do Acre/Foto:Val Fernandes
Nazareth- Sim. Isso é fundamento da democracia, que precisa ser plural como preconiza a nossa Constituição cidadã. O fundamentalismo mundo afora é por falta de amor. Amor é aceitar o outro como ele é. A política é o que evita a guerra. Qualquer agente político deveria ter um único propósito: fazer da comunidade em que estiver inserido um local para se buscar direitos, cidadania, felicidade e lutar incessantemente por uma sociedade mais justa e fraterna.
Afinal, como diziam os gregos e depois Santo Thomás de Aquino, a política é para servir. A representação política para mim é motivo de honra e uma responsabilidade a ser exercida. Não basta que sua casa esteja bem, sua família esteja bem. É preciso garantir que outras casas e outras famílias tenham dignidade em sua existência, que haja um sentido de pertencimento a um grupo social. Que haja acolhimento.
ContilNet- Com a história da sua família, aliada à sua trajetória, como a senhora se sente tendo o seu nome indicado como pré-candidata ao Governo do Acre?
Nazareth- Sou uma pessoa muito agraciada por Deus. Seria uma honraria governar o Acre, principalmente pelo chamado que recebi para ser vice-governadora. Todo dia acordo com a intenção de honrar esse mandato. No estado democrático é possível exigir todas as garantias e direitos para o povo. Podendo exigir que todas as garantias da Constituição Federal se cumpram. Para fazer valer o acesso político ao cidadão e a consciência política de cada brasileiro. Contudo, da mesma forma que nos permite o exercício pleno da cidadania, também nos permite a omissão, e que seja o país dirigido para que atenda a conveniência de poucos, não obstante à exploração e subdesenvolvimento de muitos. A omissão política de homens e mulheres justos é mais danosa que a atividade dos corruptos, posto que os danos são permanentes.
ContilNet- Qual é o grande mérito ou a maior conquista do governo Tião Viana?
Nazareth – Ele mostrou que é possível desenvolver o Acre mantendo qualidade de vida e cidadania nas comunidades isoladas. Isso tudo sem perder o foco e vínculo com as cidades. O Acre se tornou uma referência para o mundo com a nossa concepção de preservação, ou seja, de desenvolvimento sustentável. O contato, acesso e a valorização do saber tradicional é uma coisa fantástica. O aquecimento global é uma realidade. Este é o maior legado da Frente Popular e do governador Tião Viana.

“A minha proposta é incluir o movimento social na abordagem e solução dos problemas”, afirmou Nazareth/Foto:Val Fernandes
ContilNet- A senhora é pré-candidata em um momento de confluências de crises. No entanto, a crise moral atinge todos os partidos. Faça uma avaliação disso.
Nazareth- Eu não posso ignorar a crise ou criar falsas expectativas. Eu posso garantir que sou uma boa timoneira, mesmo com a atual situação. Por que eu digo isso? Porque eu sempre trabalhei com a verdade. Não tenho como dizer, por exemplo, que as verbas do Governo Federal que virão para a educação e saúde serão maiores. Sabemos que existe uma emenda constitucional que congela tudo isso. . Alguns chamam isso de participação popular. É a única forma para os governantes acertarem. Isso legitima um governo, seja em qualquer esfera, ao mesmo tempo em que divide ou compartilhar as responsabilidades.
ContilNet- Mas a relação entre União, Estados e Município ainda é confusa e às vezes até perversa. Enquanto o tal pacto federativo não sai do papel, o estado como o Acre sofre. Por que o Brasil não olha para os filhos mais distantes?
Nazareth- Exatamente. A União precisa ter esse olhar diferenciado. A não ser que venha uma reforma tributária e que se repactuem essas relações. Quem executada os orçamentos são os estados e municípios. A União é quem determina quanto é participação de cada ente federativo.
Quando dizem que temos baixa capacidade de executar convênios. Para que servem os convênios? Eles servem para garantir um dinheiro a mais considerando alguma necessidade específica de uma região para desenvolvê-la. Se esse dinheiro disponível não vier, sabe para onde ele vai? Vai voltar para o fundo de reserva e ser apropriado pelos grandes Estados. Isso é grande perversidade. Isso fere os princípios federativos.
Por décadas o Acre sustentou a União com as divisas da exportação da borracha. Perdíamos apenas para o café. Então, a União tem uma dívida histórica de investimentos com a nossa região. Estamos numa posição estratégica, uma estrada de ferro nos interligar com o Peru e o Oceano Pacífico é importante para o Acre e Brasil? Ora, isso é mudar os rumos e criar novos paradigmas de desenvolvimento, além de desencontrar o centro-sul do país.
ContilNet- A Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) é muito voltada para o Estado do Pará e a Zona Franca de Manaus (Suframa). O que é preciso fazer para que essas instituições invistam no Acre?
Nazareth- Eu represento o Acre e participo dos dois conselhos deliberativos. O senador Randofe [do Amapá], inclusive, está tentando mudar o nome para Zona Franca da Amazônia. Na Suframa a luta é grande, inclusive participei das discussões técnicas prévias sobre a implantação da Zona Franca Verde. Existe um decreto deixado pela ex-presidente Dilma.

“Eu represento o Acre e participo dos dois conselhos deliberativos”, Nazareth Araújo/Foto: Val Fernandes
Também participo das discussões de como a Suframa se posiciona, principalmente no tocante à possibilidade de ampliação do percentual 0,23% da abrangência territorial dos municípios. Cruzeiro do Sul, por exemplo, tem 0,36% de área declarada como município de zona verde. Isso retira impostos e garante investimento. Brasiléia e Epitaciolândia têm apenas 0,23%, o que impossibilitaria a instalação da indústria Dom Porquito.
No caso da Sudam, espantei-me quando percebi que, enquanto o FNO [Fundo Constitucional para o Norte] tinha os recursos bastante demandados, o FDA, que é o Fundo de Desenvolvimento da Amazônia, tinha 8 bilhões parados desde 2006. Tem alguma coisa errada com isso. Como eles são fundos constitucionais, um não pode ser remanejado para o outro. Mobilizamos a nossa bancada federal, formamos câmara técnicas e vamos acompanhar e tentar mudar essa burocracia.
ContilNet- O que a senhora propõe para desenvolver o Acre, levando em consideração os estudos e as orientações do Zoneamento Ecológico/ Econômico?
Nazareth- O programa de produção e produtividade do governador Tião Viana é imenso. Se você imaginar que em 2001 a piscicultura [praticamente] não existia, podemos concluir que muita coisa avançou. São cinco mil açudes num programa sócio-incluivo, com duas bases [fábrica de peixes, uma em Rio Branco e outra ainda em fase de conclusão, em Cruzeiro do Sul]. O que é a parceria público-privada-comunitária? É o arranjo associativo da Peixes S/A.
Trabalhamos com a força das cooperativas, embora a gente ainda possa avançar muito, é a economia sócioinclusiva. O que diz o nosso slogan? Governo parceiro, povo empreendedor. Essa é minha visão para sairmos da economia do contracheque. Ao mesmo tempo, a agroindústria precisa ser fomentada.
A agroindústria precisa movimentar os três setores da economia [agricultura, indústria e comércio]. Existem uma produção grande abacaxis em Cruzeiro do Sul. Existindo muito abacaxi, monta-se uma fábrica de beneficiamento de abacaxi, que venderá abacaxi industrializado. Isso gera uma cadeia produtiva. O mesmo pode acontecer com o açaí liofilizado para ganhar o mundo como alimento nutracêutico, não obstante à produção de farinha e seus derivados, que também têm grande aceitação no mercado, sobretudo quando conseguirmos o selo de identificação geográfica, que está na iminência de sair.
Mas fruticultura, a agroindústria, o associativismo e os financiamentos só irão existir se tivermos articulação política, capacidade técnica e credibilidade. Essas ações demandam muito esforço, conscientização e vontade política. Existem a possibilidade de termos uma bacia leiteira em Plácido de Castro.
Cada região tem as suas aptidões, as suas vocações. O Acre, num futuro próximo, pode ser um grande exportador de proteína animal (gado, suíno, frango e peixe). Não precisamos abrir novas áreas para isso acontecer. Precisamos de ciência e tecnologia para aplicar à produção.

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