Vagner Sales desvia 100 milhões da Prefeitura de Cruzeiro do Sul: Segundo controlador, dinheiro era descontado do servidor, mas não era repassado a Previdência

Dinheiro
foi descontado da folha de pagamento dos servidores como contribuição
previdenciária ao INSS, mas não foi repassado ao órgão e município já não pode
receber verbas federais
Não
há nada tão ruim que não possa ficar pior, como diz o ditado popular. A cidade
de Cruzeiro do Sul, que mais parece ter sido atingida por uma bomba nuclear tal
é a quantidade de buracos em suas vias e com sua população sofrendo com a falta
de serviços essenciais, vai sofrer mais um revés.
O
Ministério da Fazenda, através da Secretaria da Receita Federal, acaba de
comunicar ao prefeito Ilderlei Cordeiro que o município está inadimplente junto
ao governo federal e, portanto, impedido de receber recursos públicos tanto de
emenda de parlamentares ao Orçamento Geral da União (OGU) como de convênios com
o governo federal.
A
inadimplência, se não for sanada, ameaça até mesmo os chamados repasses
constitucionais, que são o Fundo de Participação dos Municípios (FPM),
repassados em parcelas mensais a cada dez dias com os quais a Prefeitura paga o
salário dos seus servidores e cobre outras despesas. A arrecadação
anual da Prefeitura, incluindo todos os recursos, é da ordem de R$ 140 milhões
por ano, a média de mais de R$ 11 milhões por mês.
A
causa da inadimplência, segundo documentos da Receita Federal, foi a
apropriação, pelo então prefeito Vagner Sales, que governou a cidade por oito
anos (de 2008 a 2016), dos recursos da contribuição previdenciária dos
servidores do município ao INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social).
O
dinheiro foi descontado da folha de pagamento dos servidores mas não repassado
ao órgão da previdência, o que caracteriza apropriação indébita,
crime previsto no Código Penal (artigo 168, CP) e punido com pena de
detenção de um a cinco anos. Os valores podem chegar a R$ 100 milhões, disse o
advogado Tárcito Batista, controlador geral do município.
Segundo
ele, documentos enviados pela Receita Federal mostram que o primeiro caso para
a inadimplência é da ordem de R$ 4 milhões, relativos ao não-repasse do
dinheiro recolhido do INSS relacionados às folhas de pagamento dos meses de
outubro, novembro, dezembro e do 13® do ano de 2016. Também há, no caso, uma
pendência de R$ 12 milhões de não-recolhimento do PIS-PASEP.
Em
seguida, ainda de acordo com o controlador Tárcito Batista, não houve repasses
ao INSS dos recursos descontados dos servidores relativos aos anos de 2012, no
valor de R$ 35 milhões, incluindo juros, multas e correção monetária. “Isso
ainda está sendo apurado, mas os valores estimados até aqui são da ordem de
mais de R$ 100 milhões”, disse Batista, que está pedindo uma auditoria nas
contas da Prefeitura sob a administração de Vagner Sales.
Além
da auditoria, o colégio de procuradores jurídicos da Prefeitura deve encaminhar
aos órgãos competentes, já na semana que vem, pedido de instauração de
inquérito policial para a investigação do caso e a devolução dos recursos aos
cofres do município. “Caso não ajuizemos a ação junto aos órgãos competentes,
teríamos dificuldade de lutar contra a inadimplência e aí, sim, poderíamos ter
os recursos, incluindo do FPM, totalmente bloqueados”, afirmou o controlador do
município.
A
inadimplência já fez com que recursos da ordem de R$ 20 milhões, para a
recuperação dos Ramais da Mariana e do Buritirana, além das obras de uma nova
rodoviária que deveria ser construída na estrada Variante, no Segundo Distrito
de Cruzeiro do Sul, e de um complexo esportivo no bairro do Aeroporto Velho,
fossem suspensos e não serão repassados ao município enquanto o problema não
for sanado.
A
ironia é que esses recursos, que já estiveram em vias de liberação a partir de
audiências do prefeito Ilderlei Cordeiro nos ministérios de Brasília, foram
obtidos através de emendas de autoria da deputada federal Jésica Sales
(MDB-AC), filha do ex-prefeito Vagner Sales, a qual teria sido beneficiada com
os recursos desviados na campanha eleitoral de apenas 60 dias em que se elegeu
uma das mais votadas no Estado.
O outro lado
Procurado
pela reportagem para oferecer sua versão sobre as acusações de que se apropriou
do dinheiro público, o ex-prefeito Vagner Sales não foi encontrado e nenhum dos
seus ex-assessores também não quiserem falar sobre o assunto. A reportagem
também não conseguiu falar com o prefeito Ilderlei Cordeiro, que passou a sexta
feira de 11 de maio em visita à zona rural, à comunidade do Valparaíso,
informaram seus assessores.
Fonte: 3dejulho/juruaemtempo.com
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